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Anarquismo em Cuba
O anarquismo em Cuba como movimento social manteve uma grande influência entre a classe trabalhadora cubana durante o século XIX e princípios do século XX. O movimento ganhou força especialmente depois da abolição da escravatura em 1886, até que foi reprimido primeiro em 1925 pelo presidente Gerardo Machado e finalmente pelo governo marxista de Fidel Castro depois da revolução cubana no fim dos anos 50. O anarquismo cubano se inclinou principalmente para o anarco-coletivismo de Mikail Bakunin, e posteriormente, para o anarcossindicalismo. O movimento trabalhador na América Latina e, por extensão, também em Cuba, foi mais influenciado pelo anarquismo que pelo marxismo em seu início.
Contents
História[editar]
Período colonial[editar]
A meados do século XIX, a sociedade cubana estava altamente estratificada, consistindo em uma classe dirigente de crioulos espanhóis proprietários de plantações de tabaco, açúcar e café, uma classe média de trabalhadores das plantações, negros e espanhóis, e uma classe baixa de escravos negros. Os escalões mais altos da sociedade estavam também profundamente divididos entre os crioulos e os espanhóis peninsulares, com os espanhóis altamente beneficiados pelo regime colonial. Cuba era uma colônia espanhola, apesar de que havia movimentos pela independência, pela integração nos Estados Unidos, e pela integração com a Espanha. As raízes do anarquismo , vieram pela primeira vez em 1857, quando se fundou uma sociedade mutualista proudhoniana. Depois de ser introduzido às idéias de Pierre-Joseph Proudhon por José de Jesús Márquez, Saturnino Martínez (um asturiano emigrado a Cuba) fundou o jornal La Aurora em 1865. Dirigido aos trabalhadores tabaqueiros, incluía as primeiras evocações de sociedades cooperativas em Cuba. Durante a Guerra dos Dez Anos, entre os insurgentes contra Espanha se incluíam expatriados procedentes da Comuna de Paris, e outros influenciados por Proudhon, incluindo Salvador Cisneros Betancourt e Vicente García.
Início do movimento[editar]
Na década de 1880 se manifesta a primeira influência explicitamente anarquista, quando José C. Campos estabelece ligações entre Cuba e anarquistas espanhóis que operavam em Barcelona, importando panfletos e jornais anarquistas. Ao mesmo tempo, muitos anarquistas espanhóis migraram para Cuba, tornando-se comum aos trabalhadores ler literatura anarquista em voz alta nas fábricas tabaqueiras, desse modo ajudando amplamente à disseminação das idéias anarquistas neste meio. Durante a década de 1880 e até meados da década de 1890, os anarquistas cubanos apoiaram um método anarco-colectivista de organização e ação similar ao da Federação de Trabalhadores da Região Espanhola, seguindo uma linha de "a cada qual segundo sua contribuição", em oposição ao "a cada um segundo sua necessidade" dos anarcocomunistas. thumb|Enrique Roig San Martín Enrique Roig San Martín fundou o Centro de Instrução y Recreo de Santiago de las Vegas em 1882, para defender a organização do trabalho e distribuir literatura de anarco-colectivistas da Espanha. O centro tinha uma política estrita, aceitando a todos os cubanos, sem ter clara sua posição social, tendência política, ou diferencias de cor. No mesmo ano, a “Junta Central de Artesãos’’ se fundou seguindo a declaração de Roig San Martín de que “nenhum grêmio nem organização” da classe trabalhadora deveria estar atada aos pés do capital”. Roig San Martín escreveu para El Boletín del Gremio de Obreros, e para o primeiro jornal explicitamente anarquista em Cuba, El Obrero, que foi fundado em 1883 por democratas republicanos mas que rapidamente se converteu em porta-voz dos anarquistas quando Roig San Martín tomou o posto de editor. Fundou entãoEl Productor em 1887. Alem de San Martín, El Productor tinha escritores nas cidades cubanas de Santiago de las Vegas e Guanabacoa, e nas cidades de Tampa e Cayo Hueso na Florida, e publicou artigos reimpressos do jornal em língua francesa Le Revolté e em La Acracia de Barcelona.
Fundada em 1885, a organização Círculo de Trabajadores se concentrou em atividades educacionais e culturais, hospedando una escola laica para 500 Estudantes pobres e cursos para grupos de trabalhadores. No ano seguinte, líderes do Círculo (com Enrique Creci a sua frente) formaram um comitê de ajuda para obter fundos para os problemas legais de oito anarquistas de Chicago que haviam sido culpados de assassinato em relação com a revolta de Haymarket. Em um mês e meio, o comitê havia conseguido aproximadamente 1.500 dólares estadunidenses para a causa. Além disso, dias antes da execução dos anarquistas, oCírculo organizou una demonstração de 2.000 pessoas em Havana para protestar contra a decisão do estado de levar a cabo as execuções. El Círculo e El Productor foram ambos multados, o jornal por um editorial escrita por Roig San Martín sobre as execuções, e o Círculo por mostrar uma ilustração que comemorava a execução. O governo colonial também proibiu as demonstrações que aconteceriam a cada ano no aniversário da execução, dando origem às tradicionais manifestações de 1 de Maio.
Fortalecimento da organização e a ação[editar]
A primeira organização explicitamente anarquista, a Alianza Obrera, foi fundada em 1887. Esta organização participou junto a Federação de Trabalhadores de Havana e El Productor no primeiro Congresso Obreiro de Cuba, que teve lugar o 1 de Outubro de 1887. Ao congresso atenderam principalmente trabalhadores tabaqueiros, apesar de não exclusivamente. Foi emitido um "dictum" marcando seis pontos:
- Oposição a todos os vestígios de autoridade.
- Unidade entre as organizações de trabalhadores através de um pacto federativo.
- Completa liberdade de ação entre todos os grupos.
- Cooperação mutua.
- Solidariedade entre todos os grupos.
- Proibição dentro da federação de todas as doutrinas políticas o religiosas.
Saturnino Martínez desaprovou o resultado do congresso, favorecendo idéias de organização mais reformistas. Isso conduziu a una rivalidade entre ele e Roig San Martín e a divisão dos sindicatos em dois grupos.
Logo após o congresso, os trabalhadores tabaqueiros iniciam uma série de greves em três fábricas , uma das quais durou até o final de novembro. Mais tarde, no verão de 1888, as greves dos trabalhadores tabaqueiros levam a um desemprego patronal dos proprietários em mais de 100 fábricas. O Círculo de Trabajadores organiza una coleta para apoiar aos trabalhadores em desemprego forçado, chegando até mesmo a enviar representantes a Cayo Hueso, na Florida, para solicitar doações de trabalhadores tabaqueiros estadunidenses. Em outubro é finalizado o desemprego patronal com os proprietários das fábricas , e foi feito um acordo para reunir-se com os trabalhadores para realizar negociações. O resultado desta situação foi tão favorável para a Alianza Obrera que o sindicato viu aumentar seu número de membros desde os 3.000 até os 5.000 nos seguintes seis meses, convertendo-se assim no sindicato mais forte de Cuba. No ano seguinte, Roig San Martín morre aos 46 anos de idade, uns dias depois de ser liberado da prisão pelo governo colonial espanhol; a seu funeral assistem supostamente 10.000 pessoas afligidas. Só alguns meses depois, em resposta a um desemprego patronal/greve na indústria tabaqueira, o chefe colonial Manuel Salamanca y Negrete fechou o sindicato de fabricantes, a Alianza Obrera e o Círculo de Trabajadores, apesar de que se permitiu às quatro escolas mantidas peloCírculo manter-se abertas, e oCírculo em sua totalidade obteve permissão da nova administração para reabrir no ano seguinte.
A resposta do governo e a guerra da independência[editar]
[[Imagem:ElProductor.png|left|thumb|Capa do periódico anarquista El Productor informando sobre os incidentes de Haymarket]]A primeira celebração do 1 de maio em Cuba se realizou em 1890, e consistiu numa marcha seguida de uma assembléia no qual falaram 18 anarquistas. Nos dias seguintes, as greves de trabalhadores em muitas indústrias levaram o governo colonial a fechar novamente o Círculo de Trabajadores, anulando a decisão ao enfrentar-se com uma manifestação de protesto de 2.300 trabalhadores. Nesse mesmo ano, onze anarquistas foram julgados pelo assassinato de Menéndez Areces, diretor do sindicato moderado Unión Obrera. Apesar de onze serem considerados inocentes, o capitão general Camilo García Polavieja usou a situação como pretexto para fechar El Productor, e reprimir os anarquistas em geral. Em 1892, foi celebrado outro congresso de trabalhadores no que se reconfirmaram seus princípios anarcossindicalistas e se expressou solidariedade com as mulheres da classe trabalhadora (una idéia nova dentro de una classe trabalhadora formada fundamentalmente por homens, que sentiram que deviam competir com as mulheres pelo posto de trabalho), declarando: "É uma necessidade urgente no perder das mulheres, que começam a encher as oficinas de muitas indústrias. São empurradas pela necessidade e pela ganância burguesa a competir conosco. Não podemos nos opor ,e sim ajudá-las" Sem embargo, o resultado disto foi a repressão por parte do governo do movimento mediante a deportação, a prisão, a suspensão do direito de livre associção, o fechamento das oficinas centrais das organizações para sufocar os esforços organizativos.
Durante a Guerra de Independência Cubana,os anarquistas se uniram a outros membros do movimento sindical para distribuir propaganda aos soldados espanhóis, exortando-os a não opor-se aos separatistas, e a unir-se à causa anarquista. Alguns anos antes, os anarquistas haviam adotado as idéias propugnadas pelos anarquistas espanhóis de organização não somente em sindicatos, mas também formando grupos anarquistas para educar à gente , cometer violentos atos contra o estado conhecidos como "propaganda pelo ato", que levarão à Guerra de Independência. Os anarquistas colocaram bombas que destruíram pontes e dutos de gás, e contribuíram para o falha tentativa separatista de assassinar o capitão general Valeriano Weyler em1896. Isto conduziu a uma maior repressão do governo, fechando a Sociedad General de Trabajadores (que cresceu fora doCírculo), realizando contra os anarquistas deportações massivas de ativistas, e incluso proibindo a leitura nos postos de trabalho.
Meados do século XX[editar]
[[Imagem:Fransisco Ferrer Guardia.jpg|right|thumb|Francisco Ferrer, anarquista catalão cuja teoria educacional inspirou o estabelecimento de escolas pelos anarquistas cubanos.]] Depois da Guerra Hispano-Estadunidense, que outorgou a Cuba sua independência da Espanha, muitos anarquistas estavam insatisfeitos com as condições que persistiam. Citavam condiciones que eram perpetuadas pelo novo governo, como a repressão dos movimentos sindicais, as ocupações estadunidenses, e a insatisfação com o sistema escolar. Para 1899, os trabalhadores anarquistas se haviam reorganizado, baixo aAlianza de Trabajadores. Para setembro deste ano, cinco dos grupos organizadores haviam sido arrestados, depois de uma greve que se estendeu a todos os ofícios da construção. Durante este tempo, o organizador anarquista Errico Malatesta visitou Cuba, dando discursos, e entrevistas a vários jornais, mas os compromissos de suas seguintes conferências foram obstaculizados pelo governador civil Emilio Nuñez. Em torno a 1902-03, os anarquistas e outros organizadores sindicais começaram tentativas para organizar a industria do açúcar, então a maior indústria de Cuba. Porem, os proprietários responderam rapidamente, e dois trabalhadores foram, assassinados, com os crimes nunca resolvidos.
Os ativistas anarquistas também centraram muita de suas energias rumo a preparação da sociedade para a revolução social através da educação. Os anarquistas dirigiram escolas infantis para contrariar às escolas católicas e às escolas públicas, crendo que as escolas religiosas eram o anátema de suas idéias de liberdade, com que as escolas públicas eram demasiado a freqüentemente usadas para inculcar idéias de "nacionalismo patriótico" e desanimar o pensamento livre nas crianças. Em números de ¡Terra!, um jornal anarquista semanal (publicado desde 1899 até 1915, vendendo mais de 600 números), os escritores denunciaram o requerimento da escola pública de apresentar lealdade à bandeira cubana, e animavam a ensinar às crianças que a bandeira era um símbolo de "inclinações cerradas e divisivas". Os anarquistas alegavam que os estudantes matriculados naquela educação se converteriam em "carne de Canon" num conflito entre os líderes dos partidos liberal e conservador em 1906, que provocou a intervenção e ocupação de Cuba por os Estados Unidos hasta 1909. Apesar dos anarquistas haverem dirigido escolas desde àquelas do Círculo de Trabajadores, não foi até 1906 quando as escolas começaram a tomar um rumo menos tradicional.
Repressão e atividade sindical[editar]
Em 1911, depois de uma greve sem êxito dos trabalhadores tabaqueiros, padeiros e carreteiros, todos apoiados por ¡Tierra!, o novo secretário governamental, Gerardo Machado, deportou a muitos anarquistas espanhóis e encerrou a muitos anarquistas cubanos. Depois de que Mario García Menocal fez a política repressiva com o controle do governo cubano em 1917, varias greves gerais foram recebidas com violência por parte do estado. Vários organizadores anarquistas foram assassinados pelo estado, incluindo a Robustiano Fernández e a Luis Díaz Blanco. Sem embargo, os anarquistas responderam com a mesma moeda com seus próprios atos violentos. A tempo, um grupo de 77 pessoas que o governo havia denominado como "máfia anarcossindicalista" foram deportados para a Espanha. Do mesmo modo, as publicações anarquistas foram proibidas (havendo sido ¡Tierra! fechada em 1915), e o Centro Obrero anarquista foi obrigado a fechar. Depois do Congresso anarquista de 1920 em Havana, tiveram lugar vários bombardeios, incluindo um no Teatro Nacional quando se encontrava atuando Enrico Caruso, que ganhava entre 15 e 20 vezes o salário anual de um trabalhador médio cubano com cada atuação individual. Ao ano seguinte, Menocal perdeu o controle do governo, que passou a Alfredo Zayas y Alfonso, conduzindo a una proliferação da atividade anarquista. O grupo de ¡Tierra! começou a publicar livros e panfletos, e ao menos se publicavam outros seis periódicos anarquistas regulares.
Neste tempo, os anarcossindicalistas estavam todavia à cabeça do movimento obreiro em Cuba. Sem embargo, apesar das indústrias marítima, ferroviária, de restauração e tabaqueira eram controladas por anarquistas organizados, no foi hasta 1925 quando una grande federação anarquista foi organizada com êxito pelos trabalhadores. Similar àConfederación Nacional del Trabajo da Espanha, os membros não anarquistas da Confederación Nacional Obrera Cubana eventualmente formaram o Partido Socialista Popular em agosto de 1925. Para este tempo, muitos anarquistas (incluindo a Alfredo López e Carlos Baliño) haviam sido varridos pela excitação sobre a Revolução Russa, e se haviam convertido em partidários de formas mais autoritárias de organização. Muitas greves tiveram lugar durante o outono de 1925, e o governo, de novo baixo o líder de Machado, foi rápido na repressão do movimento operário.Vários líderes sindicais foram fuzilados, e vários centos de anarquistas espanhóis foram deportados em um mês. Machado afirmou: "Tens razão; eu não sei o que é o anarquismo, o que é o socialismo, o que é o comunismo. Para mim todos são o mesmo. Todos são doentes patriotas". Alfredo López, então secretário geral da CNOC, foi preso primeiro em outubro de 1925, e animado a unir- se ao governo, seguido de uma segunda prisão em julho de 1926. Estava "desaparecido" neste momento, aparecendo seu corpo em 1933, depois da queda do governo de Machado.
Reorganização depois da partida de López e os espanhóis[editar]
[[Imagem:M-26-7.svg|thumb|left|Bandeira do Movimento 26 de Julho de Fidel Castro, uma organização contrária a Fulgêncio Batista que contou com a participação de muitos anarquistas cubanos na década de 1950.]] Com a falta de López, o controle sobre a CNOC estava em luta entre os anarquistas e os comunistas. Para 1930-31, o CNOC havia sido tomado pelos comunistas, com os anarquistas sendo enviados à polícia, todavia baixo o controle de Machado. Muitos dos anarquistas espanhóis implicados decidiram voltar à Espanha. Seguindo a aprovação pelo novo governo de uma lei pela qual ao menos a metade dos empregados de um patrão devia haver nascido em Cuba, um grande número de anarquistas de Cuba nascidos na Espanha foram forçados pela necessidade econômica a regressar a Espanha, o que declinou amplamente a influência do movimento anarquista em Cuba. Sem embargo, pronto foi fundada a Juventud Libertaria por uma geração mais jovem de anarquistas, e para 1936, depois o começo da Guerra Civil espanhola, os anarquistas cubanos haviam fundado a Solidaridad Internacional Antifascista (SIA), para ajudar no envio de dinheiro e armas à CNT e à Federação Anarquista Ibérica. Muitos anarquistas nascidos em Cuba foram à Espanha para unir-se à luta, junto a muitos anarquistas nascidos na Espanha exilados de Cuba.
Com os direitos garantidos pela constituição de 1940, os anarquistas puderam organizar-se de novo com um menor risco de morte ou deportação. La SIA e a Federación de Grupos Anarquistas de Cuba se dissolveram, formando seus milhares de membros a Asociación Libertaria de Cuba. A ALC manteve o Primer Congreso Nacional Libertario em 1944, elegendo um secretario geral, e um secretario organizativo. Foi seguido por um segundo congresso em 1948, no que o anarquista alemão Augustin Souchy pronunciou o discurso inaugural. Também se elegeu um órgão de propaganda oficial para a ALC, Solidaridad Gastronómica, que foi publicado de forma mensal até seu encerramento pelo governo de Castro em dezembro de 1960.
Período pós-revolucionário[editar]
1960-1961[editar]
Durante os primeiros dias depois de tomar o poder, Castro expulsou a conhecidos anarcossindicalistas daConfederación de Trabajadores de Cuba. Devido a isto, e por uma suspeição geral rumo aos governos, o conselho nacional da ALC publicou um manifesto denunciando ao governo de Castro e suas ações. O jornal Solidaridad Gastronómica também denunciou sua insatisfação com o governo, dizendo que era impossível que um governo fora "revolucionário". Em janeiro de 1960, a ALC decidiu em assembléia, pedir apoio à Revolução Cubana, declarando ao mesmo tempo sua oposição aos totalitarismos e as ditaduras. No fim do ano, o jornal do grupo (Solidaridad Gastronómica) seria fechado pelo governo. O número final comemorava a morte do anarquista espanhol Buenaventura Durruti, e continha um editorial declarando que as "ditaduras do proletariado" eram impossíveis, opinando que nenhuma ditadura podia pertencer ao proletariado, tão somente dominá-lo.
Durante o verão desse mesmo ano, o anarquista alemão Augustin Souchy foi enviado pelo governo de Castro para inspecionar o setor agrário. Não ficou impressionado com o que se encontrou, e declarou em seu panfleto Testemunhos sobre a Revolução Cubana que o sistema era muito similar ao modelo soviético. Três dias depois da partida de Souchy de Cuba, a tirada completa foi apreendida e destruída por o governo. Sem embargo, uma editorial anarquista argentina republicou o panfleto ao seguinte dezembro. Aproximadamente ao mesmo tempo, a ALC, alarmada pelo movimento do governo de Castro rumo a uma forma de governar marxista-leninista, publicou uma declaração, com o nome Grupo de Sindicalistas Libertários para prevenir reações contra os membros da ALC. O documento declarava oposição ao centralismo, às tendências autoritárias, e ao militarismo do novo governo. Depois da denúncia do documento por parte do secretário geral doPartido Comunista Cubano (PCC), os anarquistas fracassaram em sua busca de um impressor que publicara uma reação à denúncia. A publicaçãoEl Libertario publicou sua última edição esse verão.
Seguindo estas ações, muitos anarquistas elegeram passar à clandestinidade, recorrendo à "ação direta clandestina" como seu único meio de luta. Segundo o anarquista cubano Casto Moscú, "um número infinito de manifestos foram escritos denunciando os falsos postulados da revolução de Castro e chamando ao povo a opor-se a ela... se puseram em marcha planos para sabotar as coisas básicas que sustentavam ao estado”. Depois de que Manuel Gaona Sousa, um dos fundadores da ALC e antigo anarquista, fizera público um manifesto apoiando ao governo, e declarando "traidores" a todos aqueles que se opunham ao governo, Moscú e outro anarquista, Manuel González, foram presos em Havana. Quando foram liberados, ambos foram imediatamente à embaixada mexicana, onde foram aceitados. Finalmente, ambos viajaram do México a Miami, Florida, onde se reuniram com muitos de seus companheiros cubanos.
Exílio[editar]
A partir de meados de 1960, mas acelerando-se amplamente no verão de 1961, um grande número de anarquistas cubanos emigraram aos Estados Unidos. Esse verão, em Nova York, o Movimento Libertário Cubano no Exílio foi formado por alguns desses exilados, entrando em contato com anarquistas espanhóis exilados depois da Guerra Civil espanhola, que também viviam em Nova York. Entraram também em contato com Sam Dolgoff e a Libertarian League, com sede em Nova York. Rapidamente, foram recebidas doações de todo o mundo para os anarquistas cubanos exilados. Sem embargo, depois da publicação do manifesto de Gaona, as doações terminaram já que muitos anarquistas em outros países foram convencidos pelos argumentos deste documento. Como resposta ao amplo efeito deste manifesto,o MLCE publicou oBoletín de Información Libertaria com o apoio daLibertarian League e o jornal da Federación Libertaria Argentina. Entre muitos outros, a FLA publicou um ensaio de Abelardo Iglesia titulado Revolución y Contrarevolución que manifestava as diferenças que os anarquistas cubanos viam entre as revoluções marxista e anarquista: "Expropriar às empresas capitalistas, integrando-as aos trabalhadores e técnicos, ISTO É A REVOLUÇÃO. Porém, convertê-las em monopólios estatais nos quais o único direito do produtor é obedecer, ISTO É A CONTRA-REVOLUÇÃO ". Enquanto os cubanos exilados nos Estados Unidos estavam intentando conseguir fundos para apoiar aos anarquistas encerrados em prisão em Cuba, o MLCE foi denunciado por anarquistas estadunidenses e de outros países como marionetes da CIA, e "meros anti-comunistas". O jornal anarcopacifista Liberation publicou artigos a favor de Castro, o que levou a protestos do MLCE e a Libertarian League diante de suas oficinas. Todavia, em 1965, o MLCE enviou a Iglesias a Itália para apresentar o caso contra Castro antes daFederazione Anarchica Italiana (FAI). A FAI era convencida, publicando condenações em jornais anarquistas italianos tais como Umanità Nova, e coletando assinaturas da condenação daFederação Libertária Argentina, a Federação Libertária Mexicana, a Anarchist Federation of London, la Sveriges Arbetares Centralorganisation, la Federação Anarquista Francófona, e o Movimento Libertário Espanhol.
Apesar das denuncias de organizações e jornais anarquistas de todo o mundo, a opinião começou a alterar em 1976, quando Sam Dolgoff publicou seu livro The Cuban Revolution: A Critical Perspective. Depois, em 1979, o MLCE começou a publicação de uma nova revista titulada Guángara Libertaria, republicando o artígo de Alfredo Gómez The Cuban Anarchists, or the Bad Conscience of Anarchism. Em 1980, o MLCE e Guángara Libertaria apoiaram a evacuação massiva de cubanos de Cuba depois de que muitos dissidentes cubanos ocuparam a embaixada peruana em Havana. Muitos daqueles que haviam abandonado Cuba nesta época se uniram ao coletivo editorial de Guángara. Para 1985, o coletivo tinha co-responsáveis por todo o mundo, incluindo México, Havaí, Espanha, e Venezuela. A revista chegou a uma tirada de 5.000 exemplares em 1987, conviertendo-se no jornal anarquista de maior circulação nos Estados Unidos. Sem embargo, em 1992, el coletivo cessou a publicação de GL, depois que muitos de seus membros continuaram publicando escritos.
Template:Links Externos[editar]
- Dossiê Historia do anarquismo cubano I, por Carlos Manuel Estefanía
- Os anarquistas cubanos ao fim do século XIX: os libertários e a guerra do 95, por Carlos M. Estefanía
- Espanha e o anarquismo em Cuba, por Carlos M. Estefanía
- Anarquismo e feminismo: as mulheres no debate anti-imperialista, por Rodrigo Quesada Monge
- Comentando a obra “El anarquismo en Cuba” de Frank Fernández
- Debate: Anarquismo, anti-imperialismo, Cuba e Venezuela, vários autores
- Anarchism in Cuba: a critical perspective por Sam Dolgoff.