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Michele Angiolillo
Este artigo é baseado no artigo Michele Angiolillo da Wikipédia. | W |
Michele Angiolillo Lombardi (Foggia, 5 de junho de 1871, - Vergara, 20 de agosto de 1897), anarquista italiano ilegalista que em 8 de Agosto de 1896 assassinou o primeiro ministro reacionário Antonio Cánovas del Castillo, principal responsável por medidas repressivas desproporcionais que culminaram em uma série de execuções bem como nos horrores dos Processos de Montjuïc.
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Motivações[editar]
Em junho de 1896 uma bomba é lançada contra a procissão de Corpus Christi na cidade de Barcelona. O atentado serve de motivo para repressão desproporcional do estado contra anarquistas, socialistas e republicanos iniciada antes mesmo do fim das investigações. Logo são encarcerados quatrocentos supostos envolvidos na prisão da fortaleza de Montjuïc. Muitos morrem nas salas de torturas onde os torturadores não buscam outra coisa além de mais nomes de possíveis envolvidos. Dos oitenta e sete levados a julgamento, oito são condenados a morte e outros nove a longas penas prisionais. Outros setenta e um são imputados, ainda que absolvidos pelo tribunal, foram igualmente deportados para Rio de Oro, uma colônia espanhola na África por ordem do Governo de Cánovas del Castillo. Diante desta situação aterradora havia a época entre os círculos revolucionários e anarquistas uma intenção de vingança.
Trajetória[editar]
Nascido na pequena cidade italiana de Foggia em 5 de junho de 1871, Angiolillo teve contato com o anarquismo ainda na adolescência. Aprendendo a profissão de tipógrafo passou a imprimir textos anarquistas clássicos além de panfletos libertários. Em 1896 Michele Angiolillo teve que fugir da Itália para Bourdeux na França, evitando assim ser lançado na prisão como muitos outros anarquistas à época, por publicar e distribuir literatura subversiva[1].
Em Bourdeux estabeleceu contato com Antoine Antignac, um jovem anarquista da tradição proudhoniana que o auxiliou com recursos naquele momento de necessidade[2]. Da França foi para a Suíça onde novamente voltou a ser perseguido. De lá se dirigiu para Barcelona onde conviveu com anarquistas locais que lhe contaram em detalhes o horror sangrento dos recentes eventos de Montjuïc.
Em 1897 Angiolillo vai para Londres onde trabalha em uma gráfica residindo na casa de Jaime Vidal, um anarquista espanhol exilado. Por meio de Vidal, tem contato com os exilados da colônia de Cuba, muitos deles independentistas, que lhe falam das políticas do governo espanhol - "até o último homem e até a última peseta" - que haviam causado até então meio milhão de mortos na ilha. Em outra ocasião reunidos anarquistas espanhóis exilados na casa de Vidal, pode finalmente ver com os próprios olhos as marcas das terríveis torturas nos corpos de Juan Bautista Ollé e Francisco Gana, ambos vítimas dos processos de Montjuïc.
Chocado com os horrores promovidos pelo estado espanhol contra tantos, no dia seguinte Angiolillo parte de Londres para Paris com a intenção de executar um dos membros da família real espanhola[3]. Lá conhece o independentista portorriquenho Ramón Emeterio Betances que lhe convence a assumir Cánovas como seu alvo dissuadindo-o de assassinar um dos membros da realeza. Devido ao terror genocida que promovera na manutenção da ordem decadente do império espanhol, Cánovas era conhecido como "O Monstro" entre os separatistas. Betances o auxilia ainda na elaboração de um plano, dando-lhe uma identidade falsa, que lhe permitiria entrar na Espanha, financiando segunda parte de sua viagem da França para à Espanha com mil francos [4].
Angilillo deixa o escritório de Betances em 30 de Julho de 1897 num trem para San Sebastian. Lá chegando, busca informações sobre os possíveis locais por onde estaria "o monstro". Descobre que este encontra-se de férias no balneário termal de Santa Águeda, em Mondragón, próximo a Guipúzcoa. Toma um trem para Santa Águeda para o encontro de Cánovas.
Regicídio[editar]
thumb|right|300px|Angiolillo assassina Cánovas na gravura de Ginés, V. Em 8 de Agosto de 1897 Angiolillo chegou ao balneário termal e se inscreveu como Emilio Rinaldi, alegando ser um escritor correspondente do periódico italiano "Il Popolo"[5]. Nos dias que se seguem acompanha a rotina do balneário procurando saber os hábitos de Cánovas. Numa tarde ensolarada encontra o primeiro ministro lendo um jornal sob uma das varandas do balneário. Imediatamente saca uma pistola se posicionando em um ponto cego, atira três vezes, a primeira bala acerta a têmpora direita de Cánovas, atravessa o peito e sai pela mandíbula esquerda. A segunda acerta o peito de Cánovas, enquanto a terceira acerta as costas do corpo já inerte do primeiro-ministro que naquela altura já estava morto.
No mesmo instante surge uma jovem peruana que Cánovas já em sua senioridade havia tomado como esposa. Ao se deparar com a cena a mulher grita "Assassino! Assassino!" indo de encontro a Angiolillo que se volta para ela curvando-se em cumprimento e diz logo em seguida - "Perdão, madame. Tem meu respeito como mulher, mas duvido que seja a esposa daquele homem.". Dito isso Michele Angiolillo não esboça qualquer intenção de fuga, larga a arma e se rende dizendo apenas que havia cumprido seu dever e vingado seus irmãos de Montjuïc[6].
Julgamento[editar]
[[Imagem:Julgamento Angiolillo.jpg|thumb|left|250px|Reconstituição do julgamento de Angiolillo segundo a capa do periódico francês Le Petit Journal.]] Cerca de 200 pessoas estiveram presentes no julgamento de Michele Angiolillo pela corte marcial. O réu fortemente algemado sentou entre dois guardas armados imediatamente de frente para os juízes. Em uma mesa próxima foi exibido o revolver utilizado no assassinato entre outras evidências materiais do crime. No início do julgamento um dos juízes leu seu testemunho. Em seguida tenente Gorria, advogado indicado pela corte argumentou que Angiolillo estava em estado de demência quando atirou no primeiro ministro, em um forte apelo para a benevolência dos juízes. Enquanto este argumento era apresentado o réu aguardou em silêncio. Em seguida Angiolillo pediu para falar por si mesmo, e assim lhe foi concedido. Ele agradeceu o tenente Gorria por seus esforços e negou a existência de cúmplices bem como qualquer participação no atentado a bomba contra a procissão de Corpus Cristi em Junho de 1896, afirmando ter sido aquela a sua primeira ação, a qual executara sozinho.
Quando inquirido com relação a motivação de seus atos afirmou que havia feito tudo aquilo por sua paixão pela vingança contra os injustos e desalmados, que o motivou foi a vingança pela morte dos anarquistas inocentes detidos em Barcelona aos quais havia sido creditado o atentado à bomba à procissão de Corpus Cristi em Barcelona em 7 de Junho de 1896.
«"Vim para vingar meus irmãos de Montjuïc".[7]»
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Em seguida começou a falar a respeito do anarquismo e da violência estatal cometida até então, sendo interrompido pelo juiz que presidia a corte que afirmava que nada daquilo estava relacionado ao inquérito. Angiolillo persistiu falando de política, da guerra em Cuba e nas Filipinas para ser interrompido mais uma vez pelo juiz que dizia que nada daquilo tinha a ver com o crime. Diante da segunda interrupção do juiz, Angiolillo afirmou que precisava se justificar. Diante dessa afirmação o presidente da seção que se apressou em rebater afirmando veementemente que não havia justificativa para o crime, e que além disso, o réu não conseguiria convencer nenhum dos presentes com aqueles argumentos.
Em seguida Angiolillo foi conduzido para sua cela e os juízes deliberaram durante uma hora ao fim da qual anunciaram a sentença. Considerado culpado pela corte marcial Angiolillo foi condenado a execução pelo garrote vil no interior da prisão de Vergara[8].
Execução[editar]
[[Imagem:Execucio Angiolillo.jpg|thumb|right|300px|Fotografia de Michelle Angiolillo sendo executado no garrote vil.]] Às 10h30m do dia 20 de Agosto de 1897 Michelle Angiolillo foi conduzido ao pátio de execução da prisão de Vergara. Subiu a passos firmes no cadafalso e pegou o capuz negro para vesti-lo. Olhou por um instante para os presentes e, em seguida, pediu para que pudesse falar. Após ser autorizado disse uma única palavra "Germinal".
Em seguida sentou-se calmamente no assento do garrote vil esperando seu carrasco ajustar o colar de ferro em seu pescoço. Para o ajuste do colar foi tirado o capuz de sua cabeça, quando o carrasco quis cobrir-lhe o rosto, Angiolillo lhe pediu que o deixasse descoberto. Foi girada a manivela e aos 26 anos de idade Angiolillo foi executado pelo estado espanhol. Após a morte seu corpo ficou exposto em praça pública até a noite quando foi incinerado.
Todos os que presenciaram a execução de Angiolillo ficaram muito impressionados com a atitude do anarquista. Sua postura altiva e corajosa se tornaria manchete nos principais jornais da Europa e Estados Unidos nos dias que se seguiram.[9].
Curiosidades[editar]
[[Imagem:Angiolillo por costatini.jpg|thumb|right|200px|Ilustração retratando a execução de Angiolillo por garrote vil, pelo artista Flavio Costantini.]]
- Nos Estados Unidos centenas de anarquistas - entre eles a oradora Emma Goldman e o sindicalista Abelardo Moscoso - se reuniram no salão Claredon para comemorar a coragem de Angiolillo e a morte de Cánovas. Alguns carregavam porta-retratos com as imagens de Sante Caserio, o executor do presidente francês Sadi Carnot, e de Paulino Pallás, que tentara assassinar o governador da Catalunha, o general Arsenio Martinez Campos em 1893. Mais de quarenta policiais foram mobilizados para garantir a "segurança" do local[10].
- Até hoje, mais de um século depois, todo dia 20 de Agosto, dia da execução de Angiolillo, anarquistas anônimos colocam rosas vermelhas no túmulo de Michele Angiolillo, no cemitério da cidade de Vergara[11].
- A cadeia de Vergara onde Angiolillo esteve detido é atualmente uma ocupação anarquista chamada "gaztetxe", que significa Casa da Juventude[12].
- O balneário termal onde Angiolillo assassinou o presidente Cánovas é atualmente utilizado como hospital psiquiátrico na cidade de Vergara.
- A anarquista estadunidense Voltairine de Cleyre escreveu um poema em homenagem a Angiolillo. Os versos que de Clayre denominou Germinal, eram acompanhados ainda de um pequeno texto O Coração de Angiolillo, contando de forma emotiva um pouco de sua história.
Notas e Referências[editar]
- ↑ TONE, John Laerence. War and Genocide in Cuba, 1895-1898. UNC Press, 2006. ISBN 0807830062, 9780807830062. 338 páginas. pp.232
- ↑ ANDERSON, Benedict. Under Three Flags: Anarchism and the Anti-colonial Imagination. Verso, 2005. ISBN 1844670376, 9781844670376. 255 páginas. pp.192
- ↑ TONE, John Laerence. War and Genocide in Cuba, 1895-1898. UNC Press, 2006. ISBN 0807830062, 9780807830062. 338 páginas. pp.232
- ↑ Ojeda Reyes, Félix, El Desterrado de París: Biografía del Dr. Ramón Emeterio Betances (1827–1898), Ediciones Puerto, San Juan, Puerto Rico, 2001, pp. 356-359
- ↑ http://flickr.com/photos/jaumedurgell/750635763/
- ↑ TONE, John Laerence. War and Genocide in Cuba, 1895-1898. UNC Press, 2006. ISBN 0807830062, 9780807830062. 338 páginas. pp.233
- ↑ http://www.vadehistoria.com/marruecos/war80.htm
- ↑ New York Times - O assassino de Canovas vai morrer
- ↑ New York Times - Angiolillo morre bravamente
- ↑ New York Times - O assassino de Cánovas vai morrer
- ↑ http://anarcoefemerides.balearweb.net/post/35852
- ↑ CNT Gipuzkoa
- Fernández, Frank La sangre de Santa Águeda: Angiolillo, Betances y Cánovas Miami, Universal, 1994 (Cuba y sus Jueces).
Ligações externas[editar]
[[Imagem:Angiolillo died bravely.png|thumb|right|Reportagem do New York Times com a manchete "Angiolillo Morre Corajosamente, Espanha suprime informações".]]
- Tópico sobre Angiolillo no Daily Bleed (em inglês).
- Tópico sobre Angiolillo no Anarcofemèrides (em francês).
- Notícia do julgamento de Angiolillo no New York Times - O assassino de Canovas vai morrer (em inglês).
- Notícia da execução de Angiolillo no New York Times - Angiolillo morre bravamente (em inglês).
Veja também[editar]
Categoria:Anarquistas da Itália Categoria:Anarquistas da Internacional Negra Categoria:Anarquistas executados Categoria:Anarquistas regicidas Categoria:Pessoas executadas por assassinato Categoria:Libertários