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|nome                  = François Claudius Koeningstein "Ravachol"
 
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Nascido '''François Claudius Koeningstein''', mais conhecido como '''Ravachol''', ([[Saint-Chamond]], [[14 de Outubro]] de [[1859]] — [[Montbrison]], [[11 de Julho]] de [[1892]]) foi um dos mais famosos [[anarquia|anarquistas]] [[ilegalismo|ilegalistas]] [[França|franceses]], tornando-se a seu tempo o arquétipo do "anarquista lançador de bombas" através de suas [[ação direta|ações diretas]] [[Anarquismo e violência|violenta]] contra a corrupta [[Terceira República Francesa]]<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor]</ref>. A partir de uma perspectiva [[legalista]] e [[capitalista]] entrou para história como um dos grandes [[terrorista]]s do fim do [[século XIX]].
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Nascido '''François Claudius Koeningstein''', mais conhecido como '''Ravachol''', ([[Saint-Chamond]], [[14 de Outubro]] de [[1859]] — [[Montbrison]], [[11 de Julho]] de [[1892]]) foi um dos mais famosos [[anarquia|anarquistas]] [[ilegalismo|ilegalistas]] [[França|franceses]], tornando-se a seu tempo o arquétipo do "anarquista lançador de bombas" através de suas [[ação direta|ações diretas]] [[Anarquismo e violência|violenta]] contra a corrupta [[Terceira República Francesa]]<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor]</ref>. Da perspectiva [[legalista]] e [[capitalista]] Ravachol entrou para história como um dos grandes [[terrorista]]s do [[século XIX]].
  
 
== Biografia ==
 
== Biografia ==
 
===Primeiros anos===
 
===Primeiros anos===
Ravachol não precisou imaginar os horrores da vida da classe trabalhadora na [[França]] do [[Século XIX]], nascido em uma família pobre, precisou trabalhar desde os 8 anos, depois que o pai - Jean Adam Koeningstein, um marinheiro holandês) abandonou a família, fazendo com que o jovem François Claudius adotasse o nome de solteiro de sua mãe (Marie Ravachol, uma humilde costureira desempregada). Desde aquela época Ravachol teve que buscar maneiras para sustentar sua mãe, sua irmã, seu irmão e, posteriormente, seu sobrinho, vagando pela França atrás de trabalhos pelos quais recebia quase nada.
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Ravachol não precisou imaginar os horrores da vida da classe trabalhadora na [[França]] do [[Século XIX]], nascido em uma família pobre, trabalhou desde os 8 anos, depois que o pai, Jean Adam Koeningstein, um marinheiro [[holandês]], abandonou a família, fazendo com que o jovem François Claudius adotasse o nome de solteiro de sua mãe, Marie Ravachol, uma humilde costureira desempregada. Desde aquela época Ravachol teve que buscar maneiras para sustentar sua mãe, uma irmã e um irmão mais novos, e posteriormente também um sobrinho. Para isso vagou pela França atrás de trabalho pelo qual recebia quase nada.
  
Possuindo uma inteligência incomum, não demorou muito para que o jovem Ravachol passasse a desgostar do capitalismo<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor]</ref>. Foi assistente de pintor, trabalhou em uma tinturaria e, como forma de incrementar a renda familiar, chegou a tocar [[acordeon]] nos salões sociais aos domingo em [[Saint-Étienne]]. No entanto, nenhuma dessas tarefas durava tempo suficiente ou garantia o mínimo que sua família necessitava para a sobrevivência. O escritor [[Paul Adam]] diria posteriormente sobre o surgimento de Ravachol:
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Foi assistente de pintor, trabalhou em uma tinturaria e, como forma de incrementar a renda familiar, chegou a tocar [[acordeon|acordeão]] nos salões sociais aos domingo em [[Saint-Étienne]]. No entanto, nenhuma dessas tarefas durava tempo suficiente ou garantia o mínimo que sua família necessitava para a sobrevivência. Possuindo uma inteligência incomum, não demorou muito para que o jovem Ravachol passasse a relacionar sua miséria pessoal ao sistema capitalista<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor]</ref>. O escritor [[Paul Adam]] diria posteriormente sobre o surgimento de Ravachol:{{quote|"''Neste tempo de cinismo e ironia, um santo nasceu para nós''"<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor]</ref>.}}
 
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{{quote|"''Neste tempo de cinismo e ironia, um santo nasceu para nós''"<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor]</ref>.}}
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===Crimes===
 
===Crimes===
Depois de anos de dificuldade, Ravachol se viu forçado a uma vida de crime como forma de sobrevivência. Poucos heróis revolucionários possuem entre suas ocupações prévias a função de ladrão de túmulos, no entanto Ravachol, não era nem um criminoso ordinário nem um anarquista comum. Nessa época ele já havia trabalhado como falsificador (através dos conhecimentos em química que obtivera trabalhando como diarista em uma tinturaria) e contrabandista.  
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Depois de anos de dificuldade, Ravachol se viu forçado a uma vida de crime como forma de sobrevivência. Poucos revolucionários possuem entre suas ocupações prévias a função de ladrão de túmulos, no entanto Ravachol, não era nem um criminoso ordinário nem um anarquista comum. Nessa época já havia trabalhado como falsificador (através dos conhecimentos em química que obtivera trabalhando como diarista em uma tinturaria) e contrabandista.  
Entre suas ocupações estavam estavam também [[roubo]]s, [[assalto]]s e assassinatos, alguns dos quais permanece a dúvida quanto de sua autoria. 
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Chamado no meio anarquista de "''voz da dinamite''", Ravachol foi a personificação do revolucionário que se contrapunha a moralidade burguesa, tida por ele como uma forma de preconceito sempre em desfavor aos pobres. Nesse sentido, não admitia limites para a ação revolucionária, considerando a propriedade e o estado imorais. Daí justificava seus atos que por muitos foram considerados criminosos, empregados como forma de sobrevivência e apoio à causa anarquista em favor da superação do [[capitalismo]].
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Chamado no meio anarquista de "''voz da dinamite''", Ravachol se contrapunha à moralidade burguesa, tida por ele como uma forma de preconceito sempre em desfavor aos pobres. Nesse sentido, não admitia limites para a ação revolucionária, considerando a propriedade e o Estado eles sim imorais e criminosos. Daí justificava os atos aos quais recorrera, considerados repreensíveis por muitos, como forma de sobrevivência e apoio à causa anarquista.
  
 
====Latrocínio a Rivollier====
 
====Latrocínio a Rivollier====
[[Image:Costantini - Ravachol - Saint Etiene.jpg|thumb|left|Ravachol e Rulhiere em [[Saint Etienne]] na concepção do artista [[Flavio Costantini]].]]
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[[Imagem:Costantini - Ravachol - Saint Etiene.jpg|thumb|left|Ravachol e Rulhière em [[Saint Etienne]] na obra de [[Flavio Costantini]].]]
Na noite de [[29 de Março]] de [[1886]] Ravachol teria supostamente cometido os primeiros assassinatos, em um assalto, nos arredores da vila de La Varizelle próximo à St Chamond, a casa de um ancião, chamado Rivollier que, como alardeavam os boatos, possuía guardada em sua casa uma quantia considerável acumulada.  
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Na noite de [[29 de Março]] de [[1886]] Ravachol teria supostamente cometido os primeiros assassinatos, em um assalto nos arredores da vila de La Varizelle, próximo à St Chamond, na casa de um ancião, chamado Rivollier que, como alardeavam os boatos, possuía guardada em sua casa uma quantia considerável acumulada.  
  
Em La Varizelle Ravachol armado com uma machadinha teria arrombado a casa surpreendendo Rivollier em sua cama. Com um só golpe na cabeça o ilegalista teria ferido mortalmente o senhor Rivollier sem que esse sequer levantasse de sua cama. Uma serviçal que estava na casa fugira em desespero pela estrada sendo supostamente perseguida e também morta por ele. Em seguida Ravachol teria voltado para dentro da casa, e procurado desesperadamente por dinheiro, arrombando armários e gavetas, encontrando poucas coisas de valor.  
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Em La Varizelle, Ravachol, armado com uma machadinha, teria arrombado a casa, surpreendendo Rivollier em sua cama. Com um só golpe na cabeça, o ilegalista teria ferido mortalmente o senhor Rivollier sem que esse sequer levantasse de sua cama. Uma serviçal que estava na casa fugira em desespero pela estrada, sendo supostamente perseguida e também morta por ele. Em seguida, Ravachol teria voltado para dentro da casa, e procurado desesperadamente por dinheiro, arrombando armários e gavetas, encontrando poucas coisas de valor.  
  
Ao contrário de outros crimes e mesmo assassinatos, este nunca fora assumido por Ravachol, historiadores atuais consideram ser grande a possibilidade de que a autoria deste duplo assassinato tenha sido forjada e induzida pela polícia que precisava dar conta de um caso a anos sem resolução, nem suspeitos reais. Em grande medida o testemunho da companheira de Ravachol, Rulhiere, seria posteriormente utilizado como evidência por ocasião do julgamento na corte de Assisses. Visivelmente transtornada durante as seções, Rulhiere testemunhou provavelmente sob a ameaça de mais torturas.<ref>[http://dwardmac.pitzer.edu/Anarchist_Archives/vizetelly/vizetelly6.html Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol]</ref>.
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Ao contrário de outros crimes e mesmo assassinatos, este nunca fora assumido por Ravachol, historiadores atuais consideram ser grande a possibilidade de que a autoria deste duplo assassinato tenha sido forjada e induzida pela polícia que precisava dar conta de um caso a anos sem resolução, nem suspeitos reais. Em grande medida o testemunho da companheira de Ravachol, Rulhière, seria posteriormente utilizado como evidência por ocasião do julgamento na corte de Assisses. Visivelmente transtornada durante as seções, Rulhière testemunhou provavelmente sob a ameaça de mais torturas.<ref>[http://dwardmac.pitzer.edu/Anarchist_Archives/vizetelly/vizetelly6.html Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol]</ref>.
  
====Violação do túmulo da baronesa de Rochetaillé====
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====Violação do túmulo da Baronesa de Rochetaillé====
Cinco anos depois, na noite de [[14 de Maio]] de [[1891]] Ravachol violaria o túmulo da baronesa de Rochetaillé no cemitério de Saint Jean de Bonnefond, depois de dar ouvidos ao rumor que afirmava que a nobre teria sido enterrada com suas jóias. Após escalar o muro do cemitério, erguer a pedra da tumba pesando 120 quilos e retirar um caixão de carvalho colocado no lugar por três cabos de ferro, ao quebrar os selos Ravachol encontrou apenas uma cruz de madeira e sacos de cerragem junto ao corpo putrefado. Em um trecho do relato escrito por seu próprio punho:
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Cinco anos depois, na noite de [[14 de Maio]] de [[1891]] Ravachol violaria o túmulo da Baronesa de Rochetaillé no Cemitério de Saint Jean de Bonnefond, depois de dar ouvidos ao rumor que afirmava que a nobre teria sido enterrada com suas jóias. Após escalar o muro do cemitério, ergueu a pedra da tumba pesando 120 quilos e retirou um caixão de carvalho colocado no lugar por três cabos de ferro. Quebrando os selos, Ravachol encontrou apenas uma cruz de madeira e sacos de cerragem junto ao corpo putrefado. Em um trecho do relato escrito de próprio punho:
  
{{quote|"...sem emprego, fiz para mim mesmo dinheiro falso, um meio não muito lucrativo mas perigoso, logo eu o abandonei. Ouvi dizer que uma baronesa chamada de Rochetaillé tinha sido enterrada a pouco tempo. Pensei que ela deveria ter algumas joias consigo, então eu resolvi violar a tumba. Um dia consegui para mim uma lanterna de gancho e um pé-de-cabra. (...) [[Image:Costantini - Ravachol - Cemetery.JPG|thumb|right|Ilustração do artista [[Flavio Costantini]] mostrando Ravachol violando o túmulo da baronesa de Rochetaillé.]]Cheguei ao cemitério às 11:00. Antes de entrar, comi meu pão e bebi um pouco de vinho, escalei a parede e me dirigi ao túmulo que inspecionei com atenção. Então usei meu pé-de-cabra para empurrar a pedra do mausoléu e entrei nele; vendo o nome fui buscando na pedra de mármore. Eu mesmo abri a gaveta com o pé-de-cabra. Então como a pedra não podia cair sobre mim fui para um compartimento vazio ao lado dela. Na queda a pedra fez um barulho muito alto e se quebrou em muitos pedaços. (...) Depois tentei encaixar meu pé-de-cabra na fenda do caixão e consegui fazê-lo. Forcei para abrir as tábuas pressionando sobre elas, mas tinha uma camada de tecido enrolada em torno do corpo. Eu rasquei-a com a ponta do pé-de-cabra e fiz uma abertura grande o suficiente para tirar para fora o braço para ver a mão direita dela. Tive que tirar vários pacotes pequenos que eu não sabia o que continham. Uma vez que o braço dela estava para fora eu o puxei para perto e olhei atentamente para os dedos que estavam cobertos de bolor. Não consegui encontrar o que eu estava procurando. Olhei na garganta e não encontrei nada lá também, e desde que minha lanterna se apagou por falta de óleo, para terminar minha operação coloquei fogo num ramo de flores que encontrei na capela sobre os túmulos. Ele espalhou uma fumaça grossa enquanto queimava que me fez subir rapidamente se eu não quisesse morrer asfixiado. Quando abri o caixão tive medo apenas de que o gás asfixiante pudesse tomar conta do lugar, mas por eu estar com pressa de fazer o que era necessário não exitei porque era preferível morrer arriscando a própria vida que sucumbir de fome. Uma vez do lado de fora coloquei a pedra de volta no lugar e comecei a voltar para casa mas quando estava saindo vi a 100 metros de distância dois homens vindo através dos campos que pareciam ter me visto e agora vinham para me parar. Coloquei minha mão em meu revolver e me abaixei um pouco. Eles passaram na minha frente sem dizer uma palavra. Mais tarde na rua De La Monta encontrei com um homem que de uns 100 metros me perguntou o caminho para o Chateau Creux.  
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{{quote|"...sem emprego, fiz para mim mesmo dinheiro falso, um meio não muito lucrativo mas perigoso, logo eu o abandonei. [[Imagem:Costantini - Ravachol - Cemetery.JPG|thumb|right|200px|Ilustração do artista [[Flavio Costantini]] mostrando Ravachol violando o túmulo da Baronesa de Rochetaillé.]]Ouvi dizer que uma baronesa chamada de Rochetaillé tinha sido enterrada a pouco tempo. Pensei que ela deveria ter algumas jóias consigo, então eu resolvi violar a tumba. Um dia consegui para mim uma lanterna de gancho e um pé-de-cabra. (...) Cheguei ao cemitério às 11:00h. Antes de entrar, comi meu pão e bebi um pouco de vinho, escalei a parede e me dirigi ao túmulo que inspecionei com atenção. Então usei meu pé-de-cabra para empurrar a pedra do mausoléu e entrei nele; vendo o nome, fui buscando na pedra de mármore. Eu mesmo abri a gaveta com o pé-de-cabra. Então, como a pedra não podia cair sobre mim, fui para um compartimento vazio ao lado dela. Na queda a pedra fez um barulho muito alto e se quebrou em muitos pedaços. (...) Depois tentei encaixar meu pé-de-cabra na fenda do caixão e consegui fazê-lo. Forcei para abrir as tábuas pressionando sobre elas, mas tinha uma camada de tecido enrolada em torno do corpo. Eu rasguei-a com a ponta do pé-de-cabra e fiz uma abertura grande o suficiente para tirar para fora o braço para ver a mão direita dela. Tive que tirar vários pacotes pequenos que eu não sabia o que continham. Uma vez que o braço dela estava para fora, eu o puxei para perto e olhei atentamente para os dedos que estavam cobertos de bolor. Não consegui encontrar o que eu estava procurando. Olhei na garganta e não encontrei nada lá também, e desde que minha lanterna se apagou por falta de óleo, para terminar minha operação coloquei fogo num ramo de flores que encontrei na capela sobre os túmulos. Ele espalhou uma fumaça grossa enquanto queimava, o que me fez subir rapidamente se eu não quisesse morrer asfixiado. Quando abri o caixão tive medo apenas de que o gás asfixiante pudesse tomar conta do lugar, mas por eu estar com pressa de fazer o que era necessário não exitei, porque era preferível morrer arriscando a própria vida do que sucumbir de fome. Uma vez do lado de fora, coloquei a pedra de volta no lugar e comecei a voltar para casa, mas quando estava saindo, vi 100 metros de distância dois homens vindo através dos campos que pareciam ter me visto e agora vinham para me parar. Coloquei minha mão em meu revólver e me abaixei um pouco. Eles passaram na minha frente sem dizer uma palavra. Mais tarde na rua De La Monta encontrei com um homem que de uns 100 metros me perguntou o caminho para o Chateau Creux. Eu não o entendi muito bem e ele se aproximou repetindo a questão. Disse a ele para me seguir, que eu ia para aquele lado. Ele disse para mim que eu estava usando uma barba falsa no rosto, o que me fez sorrir, já que eu pensei que não tinha nada a temer desse homem que estava completamente sozinho. Isso aconteceu na Rua De La Monta. Subindo a estação, eu mostrei a ele o caminho e continuei no meu. Voltei para casa"<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/narrative.htm Uma narrativa de Ravachol]</ref>}}
Eu não o entendi muito bem e ele se aproximou repetindo a questão. Disse a ele para me seguir, que eu ia para aquele lado. Ele disse para mim que eu estava usando uma barba falsa no rosto o que me fez sorrir já que eu pensei que não tinha nada a temer desse homem que estava completamente sozinho. Isso aconteceu na Rua De La Monta. Subindo a estação eu mostrei a ele o caminho e continuei no meu. Voltei para casa"<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/narrative.htm Uma narrativa de Ravachol]</ref>}}
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Mais tarde refletindo sobre Ravachol e sua época [[Paul Adam]] escreveria:
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Refletindo sobre este ato posteriormente [[Paul Adam]] escreveria:
  
{{quote|De todos os atos de Ravachol, um deles talvez simboliza melhor tanto ele quanto seu contexto. Ao Abrir a sepultura desta velha e, tateando sobre aquelas mãos apodrecidas, buscar a jóia capaz de aliviar a fome de uma família de miseráveis por meses, ele demonstrou o quão vergonhosa é uma sociedade que enterra carcaças luxuosamente enfeitadas ao mesmo tempo em que, em um único ano, 91.000 indivíduos morrem de inanição entre as fronteiras do rico país de França, sem que ninguém pense nisso, a não ser ele e nós<ref name="ISBN 9051831145">Fernand Drijkoningen, Dick Gevers, ''Anarchia'', Amsterdam, Rodopi, coll. « Avant Garde Critical Studies », 1989 {{ISBN|9051831145}}</ref>.}}
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{{quote|De todos os atos de Ravachol, um deles talvez simboliza melhor tanto ele quanto seu contexto. Ao abrir a sepultura desta velha e, tateando sobre aquelas mãos apodrecidas, buscar a jóia capaz de aliviar a fome de uma família de miseráveis por meses, ele demonstrou o quão vergonhosa é uma sociedade que enterra carcaças enfeitadas com luxo ao mesmo tempo em que, em um único ano, 91.000 indivíduos morrem de inanição entre as fronteiras do rico país de França, sem que ninguém pense nisso, a não ser ele e nós<ref name="ISBN 9051831145">Fernand Drijkoningen, Dick Gevers, ''Anarchia'', Amsterdam, Rodopi, coll. « Avant Garde Critical Studies », 1989 {{ISBN|9051831145}}</ref>.}}
  
 
====Assassinato de Jacques Brunel====
 
====Assassinato de Jacques Brunel====
[[image:Assassinat d'un ermite.jpg|thumb|left|Capa do jornal Le Progréss Ilustrê sobre o assassinato de [[Jacques Brunel]].]]Buscando se afastar de Saint Chamond, outro dos famosos crimes de Ravachol aconteceria nas proximidades de uma vila chamada Chambles, onde morava um ancião chamado [[Jacques Brunel]] conhecido localmente como "o ermitão". Talvez motivado por votos religiosos Brunel por mais de meio século habitava solitariamente uma cabana localizada num morro nas proximidades de Chambles, tal qual faziam os eremitas na [[idade média]]. Afirmando ser muito piedoso e devoto, Brunel recebia sempre alimentos, roupas e dinheiro que lhes davam os passantes, afirmando em troca que se lembraria deles no momento de sua oração. Gastando quase nada ou muito pouco em comida e abrigo, Ravachol considerou a possibilidade do velho talvez possuir muito dinheiro guardado.
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[[Imagem:Assassinat d'un ermite.jpg|thumb|left|Capa do jornal Le Progréss Ilustrê sobre o assassinato de Jacques Brunel.]]Buscando se afastar de Saint Chamond, outro dos famosos crimes de Ravachol aconteceria nas proximidades de uma vila chamada Chambles, onde morava um ancião chamado Jacques Brunel, conhecido localmente como "O Ermitão". Talvez motivado por votos religiosos, Brunel por mais de meio século habitara solitariamente uma cabana localizada num morro nas proximidades de Chambles, como os eremitas na [[idade média]]. Vivendo às custas da caridade, Brunel recebia sempre alimentos, roupas e dinheiro que lhes davam os habitantes da região, em troca afirmava que se lembraria deles no momento das suas orações. Gastando quase nada ou muito pouco em comida e abrigo, Ravachol considerou a possibilidade do velho talvez possuir muito dinheiro guardado.
  
Assim que chegou a Chambles em [[19 de Junho]] de [[1891]] Ravachol foi de encontro a Brunel em sua cabana, encontrando o velho (de 80 ou 92 anos de idade) deitado sobre uma cama miserável no canto da cabana. Segundo seu próprio depoimento Ravachol chegou e disse-lhe que lhe daria 20 francos para que rezasse por ele, se ele lhe desse em troca uma nota de cinqüenta francos. Brunel respondeu que não possuía nada para dar em troca, e que estava prestes a se levantar, talvez por desconfiar de seu visitante. Ao se levantar o velho foi agarrado, ao mesmo tempo em que Ravachol colocou um lenço em sua boca e depois ao seu pescoço, finalmente o estrangulando. Após uma busca rápida pela cabana, Ravachol descobriu moedas e notas por todos os lados, em panelas e copos, sob a cama, nos armários e atrás deles. De acordo com o próprio Ravachol o valor total encontrado na cabana do ermitão ultrapassava os 15.000 [[franco]]s (1.600 libras esterlinas) entre moedas de cobre, prata e ouro.
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Assim que chegou a Chambles, em [[19 de Junho]] de [[1891]], Ravachol foi ao encontro de Brunel em sua cabana, encontrando o velho (de oitenta, ou noventa e dois anos de idade) deitado sobre uma cama miserável no canto da cabana. Segundo seu próprio depoimento Ravachol chegou e disse-lhe que lhe daria vinte francos para que rezasse por ele, se ele lhe desse em troca uma nota de cinqüenta francos. Brunel respondeu que não possuía nada para dar em troca, e que estava prestes a se levantar, talvez por desconfiar de seu visitante. Ao se levantar, o velho foi agarrado. Ravachol rapidamente colocou um lenço em sua boca e depois em seu pescoço, finalmente o estrangulando. Após uma busca rápida pela cabana, Ravachol encontrou moedas e notas por todos os lados, em panelas e copos, sob a cama, nos armários e atrás deles. De acordo com o próprio Ravachol o valor total encontrado na cabana do Ermitão ultrapassava os quinze mil [[franco]]s (mil e seiscentas libras esterlinas) entre moedas de cobre, prata e ouro.
  
Ravachol conseguira mais ouro e prata do que ele poderia carregar. Trancando a cabine saiu para almoçar em um café próximo à estação ferroviária. O atendente do estabelecimento diria depois em testemunho que Ravachol faminto, comera uma omelete de seis ovos, peixes assados, um bife, bebendo muito vinho. Estando seu trabalho sem conclusão, voltou a cabana do eremita e se fechou dentro dela, empilhando o dinheiro que encontrara. Existia mais do que ele poderia convenientemente levar embora, então ele foi para casa em [[Saint Etienne]] e contou para sua companheira sobre seus feitos, e na manhã seguinte, tomando uma condução ambos foram para Chambles.
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Ravachol conseguira mais ouro e prata do que ele poderia carregar. Trancando a cabine saiu para almoçar em um café próximo à estação ferroviária. O atendente do estabelecimento diria depois em testemunho que Ravachol, faminto, comera uma omelete de seis ovos, peixes assados, um bife, bebendo muito vinho. Estando seu trabalho sem conclusão, voltou à cabana do eremita e se fechou dentro dela, empilhando o dinheiro que encontrara. Existia mais do que ele poderia convenientemente levar embora, então ele foi para casa em [[Saint Etienne]] e contou para sua companheira sobre seus feitos, e na manhã seguinte, tomando uma condução, ambos foram para Chambles.
  
Voltando a cabana, levaram consigo uma mala, onde empilharam todo o ouro e pra e diversos outros bens de valor que encontraram no lugar. Junto com Rulhiere, ele partira, não para sua casa em Saint Chamond, mas para Saint Etienne ao encontro de amigos. No dia seguinte dividiram parte da quantia entre as famílias de trabalhadores e anarquistas presos ou executados. Poucas horas depois de Ravachol e Rulhiere terem deixado Chambles, uma pessoa da localidade encontraria o eremita morto em sua cama, com 50 francos em moedas de bronze, jogados sobre o chão da cabana<ref>[http://dwardmac.pitzer.edu/Anarchist_Archives/vizetelly/vizetelly6.html Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol]</ref>.
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Voltando à cabana, levaram consigo uma mala, onde empilharam todo o ouro e prata e diversos outros bens de valor que encontraram no lugar. Junto com Rulhière, ele partira, não para sua casa em Saint Chamond, mas para Saint Etienne ao encontro de amigos. No dia seguinte dividiram parte da quantia entre as famílias de trabalhadores e anarquistas presos ou executados. Poucas horas depois de Ravachol e Rulhière terem deixado Chambles, uma pessoa da localidade encontraria o eremita morto em sua cama, com cinqüenta francos em moedas de bronze, jogados sobre o chão da cabana<ref>[http://dwardmac.pitzer.edu/Anarchist_Archives/vizetelly/vizetelly6.html Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol]</ref>.
  
 
=== Primeira prisão e fuga===
 
=== Primeira prisão e fuga===
No entanto, sem perceber, Ravachol havia sido visto em suas idas e vindas à Chambles, sendo procurado e detido por policiais, junto com sua amante e dois outros homens - [[Pierre Crozet]] e [[Claude Fachard]] - com os quais havia deixado algumas das coisas roubadas da cabana de Brunel.  
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No entanto, sem perceber, Ravachol havia sido visto em suas idas e vindas à Chambles, sendo procurado e detido por policiais, junto com sua companheira e dois outros homens - [[Pierre Crozet]] e [[Claude Fachard]] - com os quais havia deixado algumas das coisas roubadas da cabana de Brunel.  
  
Por sorte ou ironia do destino no momento em que estava sendo conduzido para a prisão pelos guardas, sua escolta deu de encontro com um homem alcoolizado que cambaleava em direção ao grupo, em meio a confusão Ravachol conseguiu escapar de seus captores. Rulhiere, Fachard e Crozet não tiveram a mesma sorte, sendo presos, interrogados abaixo de severas torturas. Posterioremente foram julgados e condenados respectivamente à penas de sete, cinco e um anos de prisão.
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Por sorte ou ironia do destino, no momento em que estava sendo conduzido para a prisão pelos guardas, sua escolta deu de encontro com um homem alcoolizado que cambaleava em direção ao grupo, em meio à confusão Ravachol conseguiu escapar de seus captores. Rulhière, Fachard e Crozet não tiveram a mesma sorte, sendo presos e interrogados sob severas torturas. Posterioremente foram julgados e condenados respectivamente a penas de sete, cinco e um anos de prisão.
  
Após a fuga Ravachol procurara por seus amigos, [[Jus-Beala]] e sua companheira [[Mariette Soubert]], em [[Saint Etienne]], encontrando refúgio na casa deste casal por algum tempo. Neste mesmo período outro duplo latrocínio aconteceria em Saint Etienne. Na noite de [[27 de Julho]] uma velha viúva e sua filha seriam mortas a golpes de martelo em um assalto a sua loja. Posteriormente, durante o julgamento de Ravachol os promotores tentariam vincular tal crime a ele e a Jus-Beala, responsabilizando-os pelos assassinatos. Na versão da promotoria [[Mariette Soubert]] teria por sua vez servido de olheira para o crime em frente a loja. No entanto, todas as provas se mostraram incongruentes. Jus-Beala e Soubert foram inocentados e, como o motivo do crime era claramente roubo e este acontecera a apenas cinco semanas após o assassinato em Chambles, Ravachol provavelmente não agiria com receio de atrair a atenção das autoridades, ainda mais quando teria ainda algum dinheiro roubado de Brunel<ref>[http://dwardmac.pitzer.edu/Anarchist_Archives/vizetelly/vizetelly6.html Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol]</ref>.
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Após a fuga, Ravachol procurara por seus amigos, [[Jus-Beala]] e sua companheira [[Mariette Soubert]], em [[Saint Etienne]], encontrando refúgio na casa deste casal por algum tempo. Neste mesmo período outro duplo latrocínio aconteceria em Saint Etienne. Na noite de [[27 de Julho]], uma velha viúva e sua filha seriam mortas a golpes de martelo em um assalto a sua loja. Posteriormente, durante o julgamento de Ravachol, os promotores tentariam vincular tal crime a ele e a Jus-Beala, responsabilizando-os pelos assassinatos. Na versão da promotoria, [[Mariette Soubert]] teria por sua vez servido de olheira para o crime em frente à loja. No entanto, todas as provas se mostraram incongruentes. Jus-Beala e Soubert foram inocentados e, como o motivo do crime era claramente roubo e este acontecera a apenas cinco semanas após o assassinato em Chambles, Ravachol provavelmente não agiria com receio de atrair a atenção das autoridades, ainda mais quando teria ainda algum dinheiro roubado de Brunel<ref>[http://dwardmac.pitzer.edu/Anarchist_Archives/vizetelly/vizetelly6.html Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol]</ref>.
  
 
=== Aproximação ao Anarquismo ===
 
=== Aproximação ao Anarquismo ===
Pouco tempo depois, Beala, Mariette e Ravachol, o último assumindo o pseudônimo de Louis Leger, deixaram Saint Etienne em direção a Saint Denis, um subúrbio ao norte de Paris. Lá tiveram contato com diversas organizações anarquistas. Entre os empregados das fábricas e trabalhadores da vizinhança, Ravachol que aprendera a ler e escrever por sua própria conta e se considerava [[ateu]] e [[socialista]] desde que  aos 18 anos lera "''[[Le juif errant]]''" de [[Eugène Sue]], encontraria verdadeiros entusiastas dos ideais libertários, em pouco tempo passando a se considerar um anarquista, assumindo para a si a tarefa de combater o [[capitalismo]] e o [[estado]].  
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Pouco tempo depois, Beala, Mariette e Ravachol, o último assumindo o pseudônimo de Louis Leger, deixaram Saint Etienne em direção a Saint Denis, um subúrbio ao norte de Paris. Lá tiveram contato com diversas organizações anarquistas. Ravachol que aprendera a ler e escrever por conta própria e que, até então, se considerava [[ateu]] e [[socialista]] desde ler, aos 18 anos, "''[[Le juif errant]]''" de [[Eugène Sue]], encontraria entre os empregados das fábricas e trabalhadores de Saint Denis, verdadeiros entusiastas dos ideais libertários. Em pouco tempo passaria a se considerar um anarquista, assumindo para a si a tarefa de combater o [[capitalismo]] e o [[Estado]].  
  
Entre as vertentes anarquistas da época Ravachol e Beala se identificaram prontamente com os [[ilegalismo|ilegalistas]] defensores da [[Propaganda pelo Ato]]; anarquistas que não estavam interessados em organizar movimentos de massa para derrubada da ordem burguesa. Ao invés disso acreditavam que junto com a recusa ao pagamento de impostos e à participação no serviço militar, o assassinato de representantes do capitalismo e do estado, os piores inimigos dos trabalhadores, é o melhor meio de se alcançar um mundo melhor<ref>[http://dwardmac.pitzer.edu/Anarchist_Archives/vizetelly/vizetelly6.html Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol]</ref>.
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Entre as vertentes anarquistas da época Ravachol e Beala se identificaram prontamente com os [[ilegalismo|ilegalistas]] defensores da [[Propaganda pelo Ato]]; anarquistas que não estavam interessados em organizar movimentos de massa para derrubada da ordem burguesa. Ao invés disso, acreditavam que junto com a recusa ao pagamento de impostos e à participação no serviço militar, o assassinato de representantes do capitalismo e do Estado, os piores inimigos dos trabalhadores, seria a forma mais adequada para alcançar um mundo melhor<ref>[http://dwardmac.pitzer.edu/Anarchist_Archives/vizetelly/vizetelly6.html Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol]</ref>.
  
 
=== Atentados ===
 
=== Atentados ===
 
 
====Motivações====
 
====Motivações====
[[Image:1ermai1891.jpg|thumb|right|250px|Desenho de reconstituição do massacre de 1 de Maio de 1891 em Clichy]]
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[[Imagem:1ermai1891.jpg|thumb|right|300px|Desenho de reconstituição do massacre de 1 de Maio de 1891 em Clichy]]
Em [[1 de Maio]] de [[1891]], em [[Fourmies]], uma manifestação realizada por trabalhadores e suas famílias em exigência de uma jornada laboral diária de 8 horas acabou em um massacre. Pela primeira vez na França a recém-inventada metralhadora seria utilizada contra manifestantes desarmados, homens, mulheres e crianças, algumas carregando flores e folhas de palmeira. Catorze pessoas foram mortas e mais de quarenta acabaram gravemente feridas<ref>[http://www.spunk.org/library/fiction/mirbeau/sp001687.html Ravachol por Octave Mirbeu]</ref>.
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Em [[1 de Maio]] de [[1891]], em Fourmies, uma manifestação realizada por trabalhadores e suas famílias em exigência de uma jornada laboral diária de oito horas acabou em um massacre. Pela primeira vez na França a recém-inventada metralhadora seria utilizada contra manifestantes desarmados, homens, mulheres e crianças, algumas carregando flores e folhas de palmeira. Catorze pessoas foram mortas e mais de quarenta acabaram gravemente feridas<ref>[http://www.spunk.org/library/fiction/mirbeau/sp001687.html Ravachol por Octave Mirbeu]</ref>.
  
No mesmo dia, em [[Clichy]], um grupo de anarquistas também protestando por melhores condições de trabalho foi violentamente abordado pela polícia. Ouve troca de tiros entre manifestantes e policiais, após o confronto, dezenas de pessoas estavam mortas, três anarquistas - [[Henri Decamp]], [[Charles Dardare]] e [[Léveillé]] - foram então detidos e levados ao Comissário de Polícia para que sobre eles fosse colocada toda a responsabilidade do confronto. Dois deles foram condenados à morte em Agosto de [[1891]] com base em acusações falsas de assassinatos e delitos.
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No mesmo dia, em [[Clichy]], um grupo de anarquistas também protestando por melhores condições de trabalho foi violentamente abordado pela polícia. Ouve troca de tiros entre manifestantes e policiais. Após o confronto, dezenas de pessoas estavam mortas, três anarquistas - [[Henri Decamps]], [[Charles Dardare]] e [[Louis Léveillé]] - foram então detidos e levados ao Comissário de Polícia para que sobre eles fosse colocada toda a responsabilidade do confronto. Dois deles foram condenados à morte em Agosto de [[1891]] com base em acusações falsas de assassinatos e delitos.
  
Entre os anarquistas de Saint Denis Ravachol saberia dos ocorridos em Clichy, Fourmies e Levallois, e das penas infrigidas a Decamp e Dardare, vistos a época como mártires da causa. Teria contato também com narrativas sobre a execução dos anarquistas espanhóis em [[Jéres]].
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Entre os anarquistas de Saint Denis, Ravachol saberia dos ocorridos em Clichy, Fourmies e Levallois e das penas infrigidas a Decamp e Dardare, vistos a época como mártires da causa. Teria contato também com narrativas sobre a execução dos anarquistas espanhóis em [[Jerez de la Frontera|Jeres]].
  
A violência policial aos trabalhadores juntamente com a repressão aos [[communards]] sobreviventes (que datava já desde os tempos da insurreição da [[Comuna de Paris]] em [[1871]]), bem como a condenação a condenação a morte de anarquistas na França e na [[Espanha]] levaria Ravachol a promover uma série de vinganças, na forma de sucessivos atentados a bomba contra operadores do estado.
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A violência policial aos trabalhadores juntamente com a repressão aos [[communards]] sobreviventes (que datava já desde os tempos da insurreição da [[Comuna de Paris]] em [[1871]]), bem como a condenação à morte de anarquistas na França e na [[Espanha]] levaria Ravachol a promover uma série de vinganças, na forma de sucessivos atentados à bomba contra operadores do Estado.
  
 
==== O roubo da dinamite ====
 
==== O roubo da dinamite ====
Com o objetivo de vingar os três mártires, juntou-se a um grupo de anarquistas que incluía Faugoux, Drouhet, Chalbret e Chaumentin, para roubar dinamites de um empreiteiro local em Soisy-Sous-Etiolles, ao sul de Paris. Cento e vinte bananas de dinamite foram roubadas e deixadas em segredo sob os cuidados de um carpinteiro chamado Bricou, ele próprio e discretamente também um anarquista. Ao serem notificadas sobre o roubo as autoridades realizaram operações e batidas nos subúrbios de [[Saint Denis]], [[Puteaux]], [[Levallois]] e [[Asnieres]] à época conhecidos redutos de anarquistas. No entanto, nada fora descoberto nos primeiros dias. Ravachol para sua segurança havia se retirado de Saint Denis para [[Saint Mande]], um localidade mais afastada ao leste de Paris.
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Com o objetivo de vingar os três mártires, juntou-se a um grupo de anarquistas que incluía Faugoux, Drouhet, Chalbret e Chaumentin, para roubar caixas de dinamite de um empreiteiro local, em Soisy-Sous-Etiolles, ao sul de Paris. Cento e vinte bananas de dinamite foram roubadas e deixadas em segredo sob os cuidados de um carpinteiro chamado Bricou, ele próprio também um anarquista. Ao serem notificadas sobre o roubo, as autoridades realizaram operações e batidas nos subúrbios de Saint Denis, Puteaux, Levallois e Asnieres à época conhecidos redutos de anarquistas. No entanto, nada foi descoberto nos primeiros dias. Ravachol por questões de segurança havia se retirado de Saint Denis para Saint Mande, um localidade mais afastada ao leste de Paris.
  
Ao ser perguntado por seus amigos se ele tinha planos contra Guilhem, o comissário de polícia que havia detido ele, sua amante e seus amigos, Ravachol frequentemente respondia que sua intenção era atingir pessoas em cargos muito mais elevados do que um simples oficial. Os alvos escolhidos por ele estavam no ministério público e no judiciário e tinham responsabilidade pelo resultado do julgamento de Clichy-Levallois.
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Ao ser perguntado por seus amigos se ele tinha planos contra Guilhem, o oficial de polícia que havia detido a ele, a Rulhière e aos seus amigos, Ravachol respondia que sua intenção era atingir pessoas em cargos muito mais elevados do que um simples policial. Os alvos escolhidos por ele estavam no ministério público e no judiciário e tinham responsabilidade direta pelo resultado do julgamento de Clichy-Levallois.
  
 
====Atentado ao presidente da corte de justiça====
 
====Atentado ao presidente da corte de justiça====
Para realizar sua primeira ação Ravachol contaria com a ajuda de um jovem perspicaz e escorregadio chamado [[Charles Achille Simon]], um típico [[gavroche]] parisiense cujo apelido era "Biscoito". Simon auxiliaria Ravachol no reconhecimento de casa no Boulevard Saint Germain onde M. Benoit, o juíz, ocupava um flat.  
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[[Imagem:Bombaravachol.jpg|thumb|right|Fotografia do estrago causado pela bomba implantada por Ravachol à casa do procurador da República, M. Bulot]]
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Para realizar sua primeira ação Ravachol contaria com a ajuda de um jovem perspicaz e escorregadio chamado [[Charles Achille Simon]], um típico [[gavroche]] parisiense cujo apelido era "Biscoito". Simon auxiliaria Ravachol no reconhecimento da casa no Boulevard Saint Germain onde M. Benoit, o juiz, ocupava um flat.  
  
 
Em [[2 de Março]] de [[1892]], Ravachol, vestido com uma fina casaca e cartola, portando dois revolveres em seus bolsos, foi de bonde para Saint Germain, levando consigo um dispositivo explosivo preparado por ele em Saint Mande. Logo após colocar o explosivo no segundo andar da casa, partiu de uma maneira apressada e deselegante. Quando estava afastado já algumas centenas de metros, pode ser ouvida por vários quarteirões a grande explosão. Como a casa estava vazia no momento da explosão ninguém acabara ferido, no entanto, os danos causados somariam uma pequena fortuna, tornando-se matéria de destaque e sensacionalismo nos principais jornais.
 
Em [[2 de Março]] de [[1892]], Ravachol, vestido com uma fina casaca e cartola, portando dois revolveres em seus bolsos, foi de bonde para Saint Germain, levando consigo um dispositivo explosivo preparado por ele em Saint Mande. Logo após colocar o explosivo no segundo andar da casa, partiu de uma maneira apressada e deselegante. Quando estava afastado já algumas centenas de metros, pode ser ouvida por vários quarteirões a grande explosão. Como a casa estava vazia no momento da explosão ninguém acabara ferido, no entanto, os danos causados somariam uma pequena fortuna, tornando-se matéria de destaque e sensacionalismo nos principais jornais.
  
 
====Explosão do quartel Lobau====
 
====Explosão do quartel Lobau====
[[Image:Bombaravachol.jpg|thumb|right|Fotografia do estrago causado pela bomba implantada por Ravachol a casa do procurador da República, M. Bulot]]
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O caso ganharia ainda mais cobertura quando em [[18 de Março]] de [[1892]], no aniversário do levante da [[Comuna de Paris]], o quartel Lobau, local onde centenas de [[communard]]s foram executados em [[1871]], foi palco de uma grande explosão. Esta no entanto, não fora uma ação de Ravachol, mas sim de [[Théodule Meunier]], um anarquista carpinteiro que era amigo de Bricou, o responsável por esconder as bananas de dinamite roubadas.  
O caso ganharia ainda mais cobertura quando em [[18 de Março]] de [[1892]], no aniversário do levante da [[Comuna de Paris]], o quartel Lobau, local onde centenas de [[communard]]s foram executados, sofrera um segunda explosão. Esta no entanto, não fora uma ação de Ravachol, mas sim de um carpinteiro anarquista chamado [[Théodule Meunier]], amigo de Bricou, o homem responsável por ocultar as bananas de dinamite roubadas.  
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Ninguém se feriu na explosão do quartel, mas ainda assim foi utilizada como motivação para inúmeras perseguições e prisões que a seu tempo se mostraram infrutíferas. A época também foi apresentado por [[Émile Loubet]] (mais tarde presidente da República) e aprovado na Assembléia Nacional um projeto de lei que previa pena capital aos responsáveis pelos atentados.
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Ninguém se feriu na explosão do quartel, mas ainda assim ela seria utilizada como motivo para inúmeras perseguições e prisões que a seu tempo se mostraram infrutíferas. A época também foi apresentado por [[Émile Loubet]] (mais tarde Presidente da República) e aprovado na Assembléia Nacional um projeto de lei que previa pena capital aos responsáveis pelos atentados.
  
====Atentado à residência do procurador da república====
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====Atentado à residência do promotor da república====
A medida no entanto, não conseguiu intimidar nem a Ravachol, nem a Meunier. Em [[27 de Março]] Ravachol se dirigiria a uma casa na Rua Clichy onde morava M. Bulot, o promotor público do caso de Decamp e Dardare. Carregava consigo uma pequena mala onde estava outro dispositivo explosivo, mais potente do que o utilizado na ação anterior. Como resultado da explosão as paredes de pedra da casa racharam e a escada desabou por inteira, os gastos somados chegaram a mais de 120.000 francos e seis pessoas acabaram gravemente feridas.
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[[Imagem:Costantini - Ravachol - Atentado a Bulot.jpg|thumb|250px|right|Arte de [[Flavio Costantini]] em referência ao atentado ao procurador da república M. Bulot]]
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A medida no entanto, não conseguiu intimidar nem a Ravachol, nem a Meunier. Em [[27 de Março]] Ravachol se dirigiria a uma casa na Rua de Clichy onde morava M. Bulot, o promotor público do caso de Decamp e Dardare. Carregava consigo uma pequena mala onde estava outro dispositivo explosivo, mais potente do que o utilizado na ação anterior. Como resultado da explosão, as paredes de pedra da casa racharam e a escada desabou por inteira, os gastos somados chegaram a mais de cento e vinte mil francos e seis pessoas acabaram gravemente feridas.
  
Alardeados pela imprensa burguesa este e outros atos foram tratados como crimes de terrorismo. Esvaziados de sentido político os atentados de Ravachol e Meunier serviram com subterfúgio para perseguir anarquistas e socialistas e espalhar o terror pela cidade de [[Paris]]. Através dos jornais os principais preocupados, estadistas e membros da elite buscaram por todos os meios alarmar os habitantes das camadas medianas e pobres da cidade.
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Alardeados pela imprensa burguesa, este e outros atos foram tratados como crimes de terrorismo. Esvaziados de sentido político, os atentados de Ravachol e Meunier serviram com subterfúgio para perseguir anarquistas e socialistas e espalhar o terror pela cidade de [[Paris]]. Através dos jornais, os principais preocupados, estadistas e membros da elite, buscaram por todos os meios alarmar os habitantes das camadas medianas e pobres da cidade.
  
=== Prisão ===
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=== Segunda prisão ===
[[Image:B14-Paris-28-March-1872 large.jpeg|thumb|250px|left|A prisão de Ravachol na concepção artística de [[Flavio Costantini]].]] Satisfeito Ravachol foi jantar no Boulevard Magenta em um estabelecimento meio loja de vinhos, meio restaurante de propriedade de M. Véry. Este tinha como garço seu cunhado, um homem chamado [[Jules Lherot]]. Ao ser servido por Lherot, ravachol não se conteve e passou a vangloriar sua autoria sobre os atentados do Boulevard Saint Germain e da Rua Clichy. Poucos dias depois Lherot denunciaria Ravachol para a polícia esperando receber uma grande recompensa.
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[[Imagem:B14-Paris-28-March-1872 large.jpeg|thumb|250px|left|A prisão de Ravachol na concepção artística de [[Flavio Costantini]].]] Satisfeito Ravachol foi jantar no Boulevard Magenta em um estabelecimento que funcionava como loja de vinhos e restaurante, de propriedade de M. Véry. Este tinha como atendente seu cunhado, um homem chamado Jules Lherot. Ao ser servido por Lherot, Ravachol não se conteve e passou a se vangloriar sobre os atentados do Boulevard Saint Germain e da Rua Clichy. Dias depois Lherot denunciaria Ravachol para a polícia esperando por uma grande recompensa.
  
No dia [[30 de Março]] de [[1892]] Ravachol foi preso pela segunda vez junto a seus amigos Jus- Beala, Mariette, Simon "Biscoito" e Chaumentin. Este último se revelara um hipócrita que prontamente entregou uma série de evidências contra os outros para salvar a si mesmo da cadeia.
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No dia [[30 de Março]] de [[1892]] Ravachol foi preso pela segunda vez junto a seus amigos Jus-Beala, Mariette, Simon "Biscoito" e Chaumentin. Este último se revelara um hipócrita, que prontamente entregou à polícia uma série de evidências contra os outros, com o fim de se livrar da cadeia.
  
Na prisão ao ser interrogado pelos policiais durante horas, Ravachol não se recusara a dar quaisquer informações sobre seus atos. Seu interrogatório cuja transcrição não viria a público até que o historiador [[Jean Maitron]] o encontrasse nos Arquivos da Polícia de Paris em 1964, tornou-se um célebre documento de seus princípios:
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Após ser detido, Ravachol foi interrogado durante horas e falou abertamente aos policiais oferecendo em detalhes todas as informações solicitadas sobre seus atos e motivações. Seu interrogatório cuja transcrição permaneceu perdida por mais de meio século, não viria a público até que o historiador [[Jean Maitrón]] a encontrasse nos Arquivos da Polícia de Paris em 1964.
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O depoimento tornou-se um célebre documento da forma como Ravachol pensava seus princípios em articulação com a difícil realidade das camadas populares da França em fins do século XIX:
  
 
{{quote|''O nomeado acima, após sua refeição, falou o que se segue:''
 
{{quote|''O nomeado acima, após sua refeição, falou o que se segue:''
[[Imagem:Ravachol_-_Arrestation.jpg|thumb|right|Desenho reconstituindo a prisão de Ravachol publicado em [[Le Petit Journal]].]]
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[[Imagem:Ravachol - Arrestation.jpg|thumb|right|Desenho reconstituindo a prisão de Ravachol publicado em [[Le Petit Journal]].]]
 
''"Senhores, é um de meus hábitos, sempre estou fazendo trabalho de propaganda. Vocês sabem o que é anarquismo?"''
 
''"Senhores, é um de meus hábitos, sempre estou fazendo trabalho de propaganda. Vocês sabem o que é anarquismo?"''
[[Image:Arrestation de Ravachol.png|thumb|right|Capa do jornal [[Le Figaro]] noticiando a prisão de Ravachol.]]
 
 
''Nós respondemos "Não" a esta pergunta.''
 
''Nós respondemos "Não" a esta pergunta.''
[[Image:Arrestation de Ravachol.jpg|thumb|right|Desenho reconstituindo a prisão de Ravachol publicado no [[Le Progrès illustré]].]]
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[[Imagem:Arrestation de Ravachol.jpg|thumb|right|Desenho reconstituindo a prisão de Ravachol publicado no Le Progrès illustré.]]
 
''"Isso não me surpreende", ele respondeu. "A classe trabalhadora, assim como vocês, é forçada a trabalhar para ganhar seu pão, não tem tempo para se dedicar à leitura de livretos que lhes são dados. E o mesmo acontece com vocês.''
 
''"Isso não me surpreende", ele respondeu. "A classe trabalhadora, assim como vocês, é forçada a trabalhar para ganhar seu pão, não tem tempo para se dedicar à leitura de livretos que lhes são dados. E o mesmo acontece com vocês.''
[[Image:Ravachol - Interrogatório.jpg|thumb|right|Imagem de reconstituição do interrogatório a Ravachol publicada no [[Le Petit Journal]].]]
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[[Imagem:Ravachol - Interrogatório.jpg|thumb|right|Imagem de reconstituição do interrogatório a Ravachol publicada no [[Le Petit Journal]].]]
 
''"Anarquia é a obliteração dos bens".
 
''"Anarquia é a obliteração dos bens".
[[Image:Lherot.jpg|thumb|right|Imagem de Lherot, o garçom que delatou Ravachol]]
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[[Imagem:Lherot.jpg|thumb|right|Imagem de Lherot, o garçom que delatou Ravachol]]
 
''"Atualmente existem muitas coisas inúteis; muitas profissões são inúteis, como por exemplo, contabilidade. Com a anarquia não há mais a necessidade de dinheiro, já não há mais necessidade de escrituras e de outras formas de trabalho que existem atualmente.''
 
''"Atualmente existem muitas coisas inúteis; muitas profissões são inúteis, como por exemplo, contabilidade. Com a anarquia não há mais a necessidade de dinheiro, já não há mais necessidade de escrituras e de outras formas de trabalho que existem atualmente.''
  
''"Existem nos dias de hoje muitos cidadãos sofrendo enquanto outros nadam em opulência, em abundância. Essa situação não pode durar; nós todos deveríamos receber o excedente dos ricos; e mais ainda, obter como eles tudo o que nos é necessário. Na sociedade atual, não é possível alcançarmos esse objetivo. Nada, nem mesmo uma taxação sobre o lucro, poderia mudar a face das coisas. Todavia muitos trabalhadores pensa que se agíssemos dessa forma, as coisas poderiam melhorar. É um erro pensar dessa maneira. Se taxamos um locatário, ele irá aumentar seus alugueis e dessa forma vai dar um jeito de fazer com que aqueles que sofrem paguem pelos novos tributos impostos a ele. De forma alguma, nenhuma lei pode impedir os locatários de serem senhores de seus próprios bens, nós não podemos impedí-los de fazerem o que quer que queiram fazer com eles. O que então poderíamos fazer? Acabar com a propriedade e, fazendo isso, acabar com aqueles que a tudo tomam. Se essa abolição acontecer, também teremos que nos livrar do dinheiro, de forma a evitar qualquer idéia de acumulação, que poderia nos forçar a uma volta ao atual regime''".
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''"Existem nos dias de hoje muitos cidadãos sofrendo enquanto outros nadam em opulência, em abundância. Essa situação não pode durar; nós todos deveríamos receber o excedente dos ricos; e mais ainda, obter como eles tudo o que nos é necessário. Na sociedade atual, não é possível alcançarmos esse objetivo. Nada, nem mesmo uma taxação sobre o lucro, poderia mudar a face das coisas. Todavia muitos trabalhadores pensam que se agíssemos dessa forma, as coisas poderiam melhorar. É um erro pensar dessa maneira. Se taxamos um locatário, ele irá aumentar seus aluguéis e dessa forma vai dar um jeito de fazer com que aqueles que sofrem paguem pelos novos tributos impostos a ele. De forma alguma, nenhuma lei pode impedir os locatários de serem senhores de seus próprios bens, nós não podemos impedí-los de fazerem o que quer que queiram fazer com eles. O que então poderíamos fazer? Acabar com a propriedade e, fazendo isso, acabar com aqueles que a tudo tomam. Se essa abolição acontecer, também teremos que nos livrar do dinheiro, de forma a evitar qualquer idéia de acumulação, que poderia nos forçar a uma volta ao atual regime''".
  
 
"''É fato que o dinheiro é a causa de toda a discórdia, de todo o ódio e de todas as ambições; ele é, em uma palavra, o criador da propriedade. Esse metal, na verdade, nada é além de um preço acordado, surgido de sua raridade. Se nós não fôssemos mais obrigados a dar algo em troca das coisas que precisamos para viver, o ouro perderia seu valor e ninguém se interessaria por ele. Nem poderiam eles enriquecer a si próprios, porque nada que eles pudessem acumular poderia servir-lhes para que obtivessem uma vida melhor que a dos outros. E já não seriam mais necessárias as leis, nem necessários seriam os mestres''".
 
"''É fato que o dinheiro é a causa de toda a discórdia, de todo o ódio e de todas as ambições; ele é, em uma palavra, o criador da propriedade. Esse metal, na verdade, nada é além de um preço acordado, surgido de sua raridade. Se nós não fôssemos mais obrigados a dar algo em troca das coisas que precisamos para viver, o ouro perderia seu valor e ninguém se interessaria por ele. Nem poderiam eles enriquecer a si próprios, porque nada que eles pudessem acumular poderia servir-lhes para que obtivessem uma vida melhor que a dos outros. E já não seriam mais necessárias as leis, nem necessários seriam os mestres''".
  
"''Quanto às religiões, elas seriam destruídas, porque sua influência moral não mais possuiria qualquer razão para existir. Não haveria mais o absurdo da crença em um Deus que não existe, desde que depois da morte tudo está acabado. Então poderíamos nos agarrar a vida, mas quando digo vida quero dizer vida, o que não significa escravidão diária para fazer os patrões gordos, enquanto morremos de fome fazendo de nós os responsável pelo bem estar deles.''"
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"''Quanto às religiões, elas seriam destruídas, porque sua influência moral não mais possuiria qualquer razão para existir. Não haveria mais o absurdo da crença em um Deus que não existe, desde que depois da morte tudo está acabado. Então poderíamos nos agarrar a vida, mas quando digo vida quero dizer vida, o que não significa escravidão diária para fazer os patrões gordos, enquanto morremos de fome fazendo de nós os responsáveis pelo bem estar deles.''"
  
"''Mestres não seriam necessários, essa gente que ociosamente é mantida pelo nosso trabalho; todo mundo se faria útil a sociedade, pela qual eu digo trabalhando de acordo com suas habilidades e aptidões. Dessa forma, um poderia ser um padeiro, outro um professor, etc. Seguindo esse princípio, o trabalho por si mesmo diminuiria, e cada um de nós teria apenas uma ou duas horas de trabalho diário. Aquele que não fosse capaz de permanecer sem algum tipo de ocupação, encontraria sua distração no trabalho; haveriam ainda alguns preguiçosos, e se eles existissem, haveriam tão poucos deles que poderíamos deixá-los em paz e, sem queixa, deixá-los viver do trabalho de outros''".
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"''Mestres não seriam necessários, essa gente que ociosamente é mantida pelo nosso trabalho; todo mundo se faria útil à sociedade, pela qual eu digo trabalhando de acordo com suas habilidades e aptidões. Dessa forma, um poderia ser um padeiro, outro um professor, etc. Seguindo esse princípio, o trabalho por si mesmo diminuiria, e cada um de nós teria apenas uma ou duas horas de trabalho diário. Aquele que não fosse capaz de permanecer sem algum tipo de ocupação, encontraria sua distração no trabalho; haveriam ainda alguns preguiçosos, e se eles existissem, haveriam tão poucos deles que poderíamos deixá-los em paz e, sem queixa, deixá-los viver do trabalho de outros''".
  
"''Não existiriam mais leis, o casamento seria destruído. Nós poderíamos nos unir por inclinação, e a família seria fundada no amor de um pai e de uma mãe por seus filhos. Por exemplo, se uma mulher não mais amasse aquele a quem ele havia escolhido como companheiro, ela poderia se separar dele e formar uma nova associação. Em uma palavra, completa liberdade para viver com aqueles a quem amamos. Como no caso em que eu falei se houvessem crianças, a sociedade poderia criá-los, isso é para dizer, aqueles que gostassem as crianças poderiam criá-las.''".
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"''Não existiriam mais leis, o casamento seria destruído. Nós poderíamos nos unir por inclinação, e a família seria fundada no amor de um pai e de uma mãe por seus filhos. Por exemplo, se uma mulher não mais amasse aquele a quem ela havia escolhido como companheiro, ela poderia se separar dele e buscar um novo relacionamento. Em uma palavra, completa liberdade para viver com aqueles a quem amamos. Como no caso em que eu falei se houvessem crianças, a sociedade poderia criá-los, isso é para dizer, aqueles que gostassem das crianças poderiam criá-las.''".
  
"''Com essa união livre, não existiria mais a prostituição. Não haveriam mais doenças secretas, desde que essas nascem apenas do abuso de ambos os sexos; um abuso ao qual as mulheres são forçadas a se submeterem, desde que as atuais condições da sociedade obriga-as a suportá-lo como um trabalho para poderem sobreviver. Será o dinheiro necessário para a vida, mesmo que ganho a qualquer custo?''".
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"''Com essa união livre, não existiria mais a prostituição. Não haveriam mais doenças íntimas, uma vez que elas nascem somente do abuso de ambos os sexos; um abuso ao qual as mulheres são forçadas a se submeterem, que as condições atuais da sociedade obriga-as a suportá-lo como um trabalho para sobreviver. Será o dinheiro a necessidade de uma vida, mesmo que ganho a qualquer custo?''".
 
   
 
   
"''Com meus princípios, os quais não posso explicar em tão pouco tempo tão cheios de detalhes, o exército não mais possuiria razão para existir, desde que não existiram mais nações distintas; a propriedade privada seria destruída, e todas as nações se juntariam em uma só, que poderia ser o Universo''".
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"''Pelos meus princípios, os quais não posso explicar em tão pouco tempo tão cheios de detalhes, o exército não mais possuiria razão para existir, desde que não existiram mais nações distintas; a propriedade privada seria destruída, e todas as nações se juntariam em uma só, que poderia ser o Universo''".
  
 
"''Não mais guerra, não mais disputas, não mais ciúmes, não mais roubos, não mais assassinatos, não mais sistema penal, não mais polícia, não mais governo''".
 
"''Não mais guerra, não mais disputas, não mais ciúmes, não mais roubos, não mais assassinatos, não mais sistema penal, não mais polícia, não mais governo''".
  
"''Os anarquistas ainda não alcançaram os pormenores de seu projeto; os marcos apenas foram assentados. Hoje os anarquistas são em número suficientes para derrubar o atual estado de coisas, e se isso ainda não aconteceu, é porque precisamos completar a educação daqueles que nos seguem, fazendo surgir neles a energia e a força de vontade capaz de auxiliar na realização dos seus projetos. Tudo o que é necessário para isso é um empurrão, que alguns coloquem em suas próprias cabeças, e a revolução tomará seu lugar''".
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"''Os anarquistas ainda não alcançaram os pormenores de seu projeto; os marcos apenas foram assentados. Hoje os anarquistas são em número suficiente para derrubar o atual estado de coisas, e se isso ainda não aconteceu, é porque precisamos completar a educação daqueles que nos seguem, fazendo surgir neles a energia e a força de vontade capaz de auxiliar na realização dos seus projetos. Tudo o que é necessário para isso é um empurrão, que alguns coloquem em suas próprias cabeças, e a revolução tomará seu lugar''".
  
 
"''Aqueles que explodem casas têm como objetivo o extermínio de todos aqueles que, por sua posição social ou por seus atos, são nocivos a anarquia. Se fosse permitido atacar abertamente estas pessoas sem temer a polícia, pela própria vida, não sairíamos a destruir suas casas com dispositivos explosivos que poderiam matar pessoas das classes sofredoras que têm a seu serviço ao seu redor.''"<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/principes.htm Un saint nous est né, edited by Philippe Oriol. L'équipement de la pensée, Paris. 1992;]</ref>.}}
 
"''Aqueles que explodem casas têm como objetivo o extermínio de todos aqueles que, por sua posição social ou por seus atos, são nocivos a anarquia. Se fosse permitido atacar abertamente estas pessoas sem temer a polícia, pela própria vida, não sairíamos a destruir suas casas com dispositivos explosivos que poderiam matar pessoas das classes sofredoras que têm a seu serviço ao seu redor.''"<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/principes.htm Un saint nous est né, edited by Philippe Oriol. L'équipement de la pensée, Paris. 1992;]</ref>.}}
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[[Imagem:AffCMontbrise.jpg|thumb|300px|left|Salão da Corte de Assisses]]O primeiro julgamento ocorrido em [[24 de Abril]] começaria em meio ao pânico causado pela explosão do restaurante Véry onde trabalhava o delator de Ravachol Lherot. No atentado orquestrado por Mernieur morreriam o dono do restaurante e um dos clientes, deixando muitos feridos. Lherot fugiria do pais sem receber nenhuma recompensa além da perda do cunhado que também era seu patrão.  
 
[[Imagem:AffCMontbrise.jpg|thumb|300px|left|Salão da Corte de Assisses]]O primeiro julgamento ocorrido em [[24 de Abril]] começaria em meio ao pânico causado pela explosão do restaurante Véry onde trabalhava o delator de Ravachol Lherot. No atentado orquestrado por Mernieur morreriam o dono do restaurante e um dos clientes, deixando muitos feridos. Lherot fugiria do pais sem receber nenhuma recompensa além da perda do cunhado que também era seu patrão.  
  
Diante da prisão de Ravachol e de tantos anarquistas suspeitos quanto a polícia conseguira agarrar, bem como frente a deportação de diversos outros da França, as autoridades não esperavam que novos atentados pudessem acontecer.  
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Após a prisão de Ravachol e da prisão ou deportação de tantos anarquistas suspeitos quanto a polícia conseguira agarrar, as autoridades não esperavam que novos atentados pudessem acontecer.  
  
Na ocasião Ravachol surpreendera os presentes por sua atitude firme diante dos juises que mesmo antes de sua captura já tinham definido por lei seu veredito. Chaumentin que de vontade própria dera provas contra seus companheiros saíra livre como um ato de benevolência por parte do procurador M. Quesnay de Beaurepaire. Também Jus-Beala e Mariette Soubert foram absolvidos pela falta de evidências, fazendo com que a acusação focasse sua atenção em Ravachol e no jovem Simon.  
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Na ocasião, Ravachol surpreendera os presentes por sua atitude firme diante dos juízes, que mesmo antes de sua captura já tinham definido por lei seu veredito. Chaumentin que de vontade própria dera provas contra seus companheiros saíra livre como um ato de benevolência por parte do procurador M. Quesnay de Beaurepaire. Também Jus-Beala e Mariette Soubert foram absolvidos pela falta de evidências, fazendo com que a acusação focasse sua atenção em Ravachol e no jovem Simon.  
  
 
De acordo com os relatos da época, Ravachol possuía em suas mãos uma folha onde havia escrito sua declaração, não propriamente de defesa, mas chamando seus juízes a reflexão. Quando inquerido sobre sua responsabilidade sobre os atos pelos quais estava sendo julgado, começou a lê-la, no entanto, foi interrompido depois de algumas palavras sem jamais poder retomá-la até o fim do julgamento<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/forbidden-speech.htm A declaração proibida de Ravachol]</ref>.
 
De acordo com os relatos da época, Ravachol possuía em suas mãos uma folha onde havia escrito sua declaração, não propriamente de defesa, mas chamando seus juízes a reflexão. Quando inquerido sobre sua responsabilidade sobre os atos pelos quais estava sendo julgado, começou a lê-la, no entanto, foi interrompido depois de algumas palavras sem jamais poder retomá-la até o fim do julgamento<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/forbidden-speech.htm A declaração proibida de Ravachol]</ref>.
  
{{quote|Se tomo a palavra não é para me defender dos atos de que me acusam, pois é somente a sociedade a responsável, que por causa da sua organização põe os homens em luta contínua uns contra os outros.</br> [[Imagem:Ravachol junho 1892.png|thumb|right|Ravachol sendo escoltado por guardas em junho de 1892.]] De fato, não vemos hoje em todas as classes e em todas as profissões pessoas que desejam, não direi a morte, já que soaria mal, mas sim a desgraça de seus semelhantes, se esta puder lhes trazer algum benefício. Por exemplo um patrão que deseja ver desaparecer um concorrente? Todos os comerciantes geralmente não guerreia uns contra os outros com o objetivo de ser os únicos a desfrutarem dos benefícios que resultam deste tipo de ocupação? O trabalhador sem trabalho não deseja, para obter um trabalho, que por um motivo qualquer que um que esteja empregado seja despedido de sua função? Pois bem, em uma sociedade onde se produzem tais fatos, não devemos nos surpreender com o tipo de atos que agora me censuram, que não são mais que a conseqüência lógica da luta pela existência que têm os homens que para viver, são obrigados a recorrer a todo tipo de meios. E já que cada um por si próprio, se preocupa consigo, em suas próprias necessidades se limita a pensar "Pois bem, já que as coisas são assim, eu não tenho porque duvidar, quando tenho fome, em recorrer a todos os meios ao meu alcance, ainda e com o risco de provocar vítimas! Os patrões quando despedem os trabalhadores, se preocupam se estes vão morrer de fome? Todos os que têm benefícios se preocupam se existem pessoas que lhes falta até mesmo o necessário?"</br> [[Image:Ravachol - Julgamento Progres Illustre.jpg|thumb|right|Capa do [[Progrès illustré]] mostrando Ravachol e seus cúmplices diante da corte de Assisses.]]Certamente existe alguns que ajudam, mas são incapazes de aliviar a todos aqueles necessitados e aos que morrerão antes de seu tempo em conseqüência das privações de todo tipo, ou voluntariamente pelos suicídios de todo tipo para colocar fim a uma existência miserável e não ter que suportar as agruras da fome, as vergonhas, as inúmeras humilhações e desesperos sem fim. Nesta situação se encontra a família Hayem e a senhora Souhain que levou a morte a seus filhos para não os ver sofrer por mais tempo e todas as mulheres que por medo de não poder alimentar a um filho, não exitem em comprometer sua saúde e sua vida destruindo em seu seio o fruto de seus amores.</br> E todas essas coisas acontecem em meio à abundância de todo tipo de produtos. Compreenderíamos que tudo isto tivesse lugar em um país onde os produtos são escassos, onde não há alimentos. Mas na França, onde reina a abundância, onde os açougues transbordam de carne, as padarias de pão, onde a roupa, o calçado estão amontoado nas lojas, onde existem casas vazias! Como admitir que tudo está bem na sociedade, quando se vê tão claramente o contrário?</br>Haverá gente que se compadecerá de todas estas vítimas, mas que dirão que não podem fazer nada. Que cada um ajude como possa! Que pode fazer a quem falta o necessário mesmo enquanto trabalho, quando está desocupado? Não mais que desejar morrer de fome. Então se lançarão algumas palavras de piedade sobre o seu cadáver. Isto é o que gostaria de ter deixado para os outros. Eu preferi me fazer contrabandista, falsificador, ladrão e assassino. Poderia ter mendigado, mas é degradante e covarde, e até castigado pelas suas leis que transformam em delito à miséria. Se todos os necessitados, em lugar de esperarem, tomassem de onde existe o precisam não importando de que forma, entenderiam talvez mais depressa como é perigoso desejar manter o estado social atual, onde a inquietação é permanente e a vida está ameaçada a cada instante.</br> Acabaríamos, sem dúvida, compreendendo mais rapidamente que os anarquistas têm razão quando dizem que para conseguir tranqüilidade moral e física, é necessário destruir as causas que geram os crimes e os criminosos: não é suprimindo àquele que, ao invés de morrer de uma morte lenta em conseqüência das privações que teve e terá que suportar, sem esperanças de vê-las acabar, prefere, se tem um pouco de energia, tomar violentamente aquilo que lhe pode assegurar o bem estar, ainda que sob o risco de sua morte, que não é mais que um fim para seus sofrimentos. </br> E é aqui que está o porque cometi os atos que me reprovam e que não são mais que a conseqüência lógica do estado bárbaro de uma sociedade que não faz mais que aumentar o número de suas vítimas pelo rigor de suas leis que se alçam contra os efeitos sem jamais tocar nas causas; dizem que se tem que ser cruel para matar a um semelhante, mas os que falam isto não vem que decidimos fazê-lo tão somente para evitarmos a nossa própria morte.</br>Igualmente, vocês, senhores juízes, que sem dúvida vão me condenar a pena de morte, porque acreditam que é uma necessidade e que meu desaparecimento será uma satisfação para vocês que têm horror em ver correr o sangue humano, mas que quando acreditam que será útil derramá-lo para garantir a segurança de vossa existência, não duvidarão mais do que eu em fazê-lo, com a diferença que vocês o fazem sem correr nenhum risco, enquanto que eu agi colocando em risco e perigo minha liberdade e minha vida.</br>Bem, senhores, existe mais criminosos a serem julgados, mas às causas do crime não são destruídas. Criando os artigos do código, os legisladores se esqueceram que eles não atacam as causas mas somente os efeitos, e, efeitos que todavia se desencadearão. Sempre existirão criminosos, ainda que destruam um, amanhã nascerão outros dez.</br> O que fazer então? Destruir a miséria, esta semente do crime, assegurando a cada qual a satisfação de todas suas necessidades! E quão difícil é de realizar! Seria suficiente estabelecer a sociedade sobre novas bases onde tudo seria de todos, e onde cada um produzindo segundo suas aptidões e suas forças, poderia consumir segundo suas necessidades. Desta forma não veremos mais gente como o ermitão de Notredame-de-Grâce, mendigando por moedas daqueles que se tornam escravos e vítimas! Não veremos mais mulheres cedendo seus corpos, como uma mercadoria vulgar em troca destas mesmas moedas que nos impede freqüentemente de reconhecer se o afeto é realmente sincero. Não veremos mais homens como Pranzini, Prado, Berland, Anastay e outros que, para obter esse mesmo metal chegam a dar morte! Isto demonstra claramente que a causa de todos os crimes é sempre a mesma e que é necessário ser realmente insensato para no enxergá-la.</br>Repito, se é a sociedade quem cria os criminosos, e vocês, juízes, no lugar de golpeá-los, deveriam usar vossa inteligência e vossas forças para transformar a sociedade. Com um golpe só fariam desaparecer todos os crimes; e vossa obra, atacando as causas, seria maior e mais fecunda que vossa justiça que se limita a castigar seus efeitos.</br> Eu não sou mais que um trabalhador sem estudo, mas por ter vivido a existência dos miseráveis, sinto mais um burguês rico os horrores de vossas leis repressivas. Onde conseguiram o direito de matar ou prender um homem que, colocado sobre a terra com a necessidade de viver, se viu na necessidade de tomar aquilo que lhe faltava para se alimentar?</br> Eu trabalhei para viver e fazer viver aos meus; até um ponto em que nem eu nem os meus não sofremos demais. Me mantive da forma que vocês chamam "honesto". Depois o trabalho faltou, e sem ele veio a fome. E então quando esta grande lei da natureza, esta voz imperiosa que não admite réplica, o instinto de sobrevivência me empurrou para cometer certos crimes e delitos que vocês me reprovam e dos quais reconheço ser o autor.</br>Me julguem, senhores juízes, mas se me compreenderem, ao julgarem-me julguem todas as causas da miséria, aliadas a ferocidade natural daqueles feitos em criminosos, quando a riqueza com a mesma facilidade cria homens honestos. Uma sociedade inteligente não teria feito homens pobres, e portanto criminosos, nem homens ricos, e portanto honestos, mas simplesmente homens".''<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/forbidden-speech.htm A declaração proibida de Ravachol]</ref>}}
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{{quote|Se tomo a palavra não é para me defender dos atos de que me acusam, pois é somente a sociedade a responsável, que por causa da sua organização põe os homens em luta contínua uns contra os outros.</br> [[Imagem:Le restaurant Véry - ext.png|thumb|right|Desenho publicado no jornal [[Le Figaro]] do exterior do restaurante Véry após a explosão por [[Théodule Meunier]].]] De fato, não vemos hoje em todas as classes e em todas as profissões pessoas que desejam, não direi a morte, já que soaria mal, mas sim a desgraça de seus semelhantes, se esta puder lhes trazer algum benefício. Por exemplo, um patrão que deseja ver desaparecer um concorrente? Todos os comerciantes geralmente não guerreiam uns contra os outros com o objetivo de serem os únicos a desfrutarem dos benefícios que resultam deste tipo de ocupação? O trabalhador sem trabalho não deseja, para obter um trabalho, que por um motivo qualquer que um que esteja empregado seja despedido de sua função? Pois bem, em uma sociedade onde se produzem tais fatos, não devemos nos surpreender com o tipo de atos que agora me censuram, que não são mais que a conseqüência lógica da luta pela existência que têm os homens que para viver, são obrigados a recorrer a todo tipo de meios. E já que cada um por si próprio, se preocupa consigo, em suas próprias necessidades se limita a pensar "Pois bem, já que as coisas são assim, eu não tenho porque duvidar, quando tenho fome, em recorrer a todos os meios ao meu alcance, ainda e com o risco de provocar vítimas! Os patrões quando despedem os trabalhadores, se preocupam se estes vão morrer de fome? Todos os que têm benefícios se preocupam se existem pessoas que lhes falta até mesmo o necessário?"</br> [[Imagem:Ravachol junho 1892.png|thumb|right|Ravachol sendo escoltado por guardas em junho de 1892.]]Certamente existe alguns que ajudam, mas são incapazes de aliviar a todos aqueles necessitados e aos que morrerão antes de seu tempo em conseqüência das privações de todo tipo, ou voluntariamente pelos suicídios de todo tipo para colocar fim a uma existência miserável e não ter que suportar as agruras da fome, as vergonhas, as inúmeras humilhações e desesperos sem fim. Nesta situação se encontra a família Hayem e a senhora Souhain que levou a morte a seus filhos para não os ver sofrer por mais tempo, e todas as mulheres que por medo de não poder alimentar a um filho, não exitam em comprometer sua saúde e sua vida destruindo em seu seio o fruto de seus amores.</br>[[Imagem:Ravachol - Julgamento Progres Illustre.jpg|thumb|right|Capa do jornal Progrès illustré mostrando Ravachol e seus cúmplices na corte de Assisses.]] E todas essas coisas acontecem em meio à abundância de todo tipo de produtos. Compreenderíamos que tudo isto tivesse lugar em um país onde os produtos são escassos, onde não há alimentos. Mas na França, onde reina a abundância, onde os açougues transbordam de carne, as padarias de pão, onde a roupa, o calçado estão amontoado nas lojas, onde existem casas vazias! Como admitir que tudo está bem na sociedade, quando se vê tão claramente o contrário?</br> [[Imagem:Le restaurant Véry - int.png|thumb|right|Desenho publicado no jornal [[Le Figaro]] do interior do restaurante Véry após a explosão orquestrada por [[Théodule Meunier]].]] Haverá gente que se compadecerá de todas estas vítimas, mas que dirão que não podem fazer nada. Que cada um ajude como possa! Que pode fazer a quem falta o necessário mesmo enquanto trabalho, quando está desocupado? Não mais que desejar morrer de fome. Então se lançarão algumas palavras de piedade sobre o seu cadáver. Isto é o que gostaria de ter deixado para os outros. Eu preferi me fazer contrabandista, falsificador, ladrão e assassino. Poderia ter mendigado, mas é degradante e covarde, e até castigado pelas suas leis que transformam em delito à miséria. Se todos os necessitados, em lugar de esperarem, tomassem de onde existe o que precisam, não importando de que forma, entenderiam talvez mais depressa como é perigoso desejar manter o estado social atual, onde a inquietação é permanente e a vida está ameaçada a cada instante.</br> Acabaríamos, sem dúvida, compreendendo mais rapidamente que os anarquistas têm razão quando dizem que para conseguir tranqüilidade moral e física, é necessário destruir as causas que geram os crimes e os criminosos: não é suprimindo àquele que, ao invés de morrer de uma morte lenta em conseqüência das privações que teve e terá que suportar, sem esperanças de vê-las acabar, prefere, se tem um pouco de energia, tomar violentamente aquilo que lhe pode assegurar o bem estar, ainda que sob o risco de sua morte, que não é mais que um fim para seus sofrimentos. </br> E é aqui que está o porque cometi os atos que me reprovam e que não são mais que a conseqüência lógica do estado bárbaro de uma sociedade que não faz mais que aumentar o número de suas vítimas pelo rigor de suas leis que se alçam contra os efeitos sem jamais tocar nas causas; dizem que se tem que ser cruel para matar a um semelhante, mas os que falam isto não vêem que decidimos fazê-lo tão somente para evitarmos a nossa própria morte.</br>Igualmente, vocês, senhores juízes, que sem dúvida vão me condenar à pena de morte, porque acreditam que é uma necessidade e que meu desaparecimento será uma satisfação para vocês que têm horror em ver correr o sangue humano, mas que quando acreditam que será útil derramá-lo para garantir a segurança da vossa existência, não duvidarão mais do que eu em fazê-lo, com a diferença que vocês o fazem sem correr nenhum risco, enquanto que eu agi colocando em risco e perigo minha liberdade e minha vida.</br>Bem, senhores, existe mais criminosos a serem julgados, mas as causas do crime não são destruídas. Criando os artigos do Código, os legisladores se esqueceram que eles não atacam as causas mas somente os efeitos, e, efeitos que todavia se desencadearão. Sempre existirão criminosos, ainda que destruam um, amanhã nascerão outros dez.</br> O que fazer então? Destruir a miséria, esta semente do crime, assegurando a cada qual a satisfação de todas suas necessidades! E quão difícil é de realizar! Seria suficiente estabelecer a sociedade sobre novas bases onde tudo seria de todos, e onde cada um produzindo segundo suas aptidões e suas forças, poderia consumir segundo suas necessidades. Desta forma não veremos mais gente como o ermitão de Notredame-de-Grâce, mendigando por moedas daqueles que se tornam escravos e vítimas! Não veremos mais mulheres cedendo seus corpos, como uma mercadoria vulgar em troca destas mesmas moedas que nos impede freqüentemente de reconhecer se o afeto é realmente sincero. Não veremos mais homens como Pranzini, Prado, Berland, Anastay e outros que, para obter esse mesmo metal chegam a dar morte! Isto demonstra claramente que a causa de todos os crimes é sempre a mesma e que é necessário ser realmente insensato para não enxergá-la.</br>Repito, se é a sociedade quem cria os criminosos, e vocês, juízes, no lugar de golpeá-los, deveriam usar vossa inteligência e vossas forças para transformar a sociedade. Com um golpe só fariam desaparecer todos os crimes; e vossa obra, atacando as causas, seria maior e mais fecunda que vossa justiça que se limita a castigar seus efeitos.</br> Não sou mais que um trabalhador sem estudo, mas por ter vivido a vida dos pobres, tenho mais capacidade que um burguês rico para sentir a perversidade das suas leis repressivas. Onde foi que conseguiram o direito de matar ou prender um homem que, colocado sobre a terra com a necessidade de viver, se viu na necessidade de tomar aquilo que lhe faltava para se alimentar?</br> Trabalhei para viver e para sustentar a minha família; para que nem eu nem meus parentes sofrêssemos demais. Mantive-me da forma que vocês chamam "honesto". Depois o trabalho faltou e sem ele veio a fome. então veio essa grande lei da natureza, esse brado imperioso que não admite ficar sem resposta, o instinto de preservação me levou a cometer alguns dos crimes e infrações dos quais sou acusado e que admito ser o autor. </br>Me julguem, senhores do júri, mas se vós me compreendestes, ao me julgarem julguem todos os desafortunados cuja pobreza combinada com orgulho natural, transformou em criminosos, e àqueles cuja riqueza ou o benefício transformou em homens honestos.</br>Uma sociedade inteligente teria feito deles homens, como quaisquer outros".''<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/forbidden-speech.htm A declaração proibida de Ravachol]</ref>}}
  
Tanto Ravachol quanto Simon foram considerados culpados e condenados a trabalhos forçados para o resto de suas vidas. As investigações não pararam aí, um outro julgamento teatral seria armado com a intenção de condenar Ravachol finalmente a guilhotina.
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Tanto Ravachol quanto Simon foram considerados culpados e condenados a trabalhos forçados para o resto de suas vidas. As investigações não parariam aí, um outro julgamento teatral seria armado com a intenção de condenar Ravachol finalmente à guilhotina.
  
 
Em um artigo publicado em [[1 de Maio]], [[Octave Mirbeau]] apresenta uma das mais balanceadas visões sobre as motivações das atividades terroristas de Ravachol.
 
Em um artigo publicado em [[1 de Maio]], [[Octave Mirbeau]] apresenta uma das mais balanceadas visões sobre as motivações das atividades terroristas de Ravachol.
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==== Segundo julgamento em Montbrison ====
 
==== Segundo julgamento em Montbrison ====
[[Image:Ravachol - Tribunal Montbrison.jpg|thumb|left|300px|Segundo julgamento de Ravachol em [[Montbrison]], na corte de justiça de [[Loire]].]]
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[[Imagem:Ravachol - Tribunal Montbrison.jpg|thumb|left|300px|Segundo julgamento de Ravachol em [[Montbrison]], na corte de justiça de [[Loire]].]]
Após ser mantido durante dois meses em uma espécie de jaula sob vigilância constante, Ravachol foi finalmente enviado da Corte de Assisses para Montbrison para responder pelos assassinatos dos quais era acusado. Com a aparência cansada ele se colocou frente a corte, na platéia estavam presentes homens ilustres, jornalistas e curiosos anônimos. Seus amigos Beal e Mariette compareceram junto com ele, mas apenas na qualidade de cúmplices por oferecerem abrigo após o assassinato do eremita de Chambles. Entre as testemunhas trazidas pelas autoridade estava a companheira de Ravachol, La Rulhiere. Ao vê-la pela primeira vez em um julgamento ele cairia em lágrimas, enquanto ela por sua parte declararia que ainda o amava e que o acusara falsamente.  
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Após ser mantido durante dois meses em uma espécie de jaula sob vigilância constante, Ravachol foi finalmente enviado da Corte de Assisses para Montbrison para responder pelos assassinatos dos quais era acusado. Com a aparência cansada ele se colocou frente à Corte; na platéia estavam presentes homens ilustres, jornalistas e curiosos anônimos. Seus amigos Beal e Mariette compareceram junto com ele, mas apenas na qualidade de cúmplices por oferecerem abrigo após o assassinato do eremita de Chambles. Entre as testemunhas trazidas pela acusação estava a companheira de Ravachol, La Rulhière. Ao vê-la, pela primeira vez ele choraria em um local público, enquanto ela por sua parte declararia que ainda o amava e que o acusara falsamente.  
  
Durante o julgamento Ravachol confessaria alguns dos crimes dos quais era acusado, negando absolutamente sua participação em outros assassinatos que não o de Chambles. Sobre este episódio em que matara o eremita em Chambles, ele afirmaria ser ele o resultado da situação miserável na qual ele vivia.
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Durante o julgamento, Ravachol confessaria alguns dos crimes dos quais era acusado, negando absolutamente sua participação em outros assassinatos que não o de Chambles. Sobre este episódio em que matara o eremita em Chambles, ele afirmaria ser ele o resultado da situação miserável na qual ele vivia.
 
    
 
    
 
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Por fim, a Corte de Justiça de [[Loire]] condenaria Ravachol à [[guilhotina]] pelos três assassinatos, diversos delitos e dois outros crimes comuns ocorridos em [[1886]] e [[1891]]. Após ouvir o pronunciamento da sentença, ele gritaria:  
Por fim a corte de Justiça de [[Loire]] condenaria Ravachol a [[guilhotina]] pelos três assassinatos, diversos delitos e dois outros crimes comuns ocorridos em [[1886]] e [[1891]]. Após ouvir o pronunciamento da sentença, ele gritaria:  
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{{quote|''Vive l'Anarchie!''}}
 
{{quote|''Vive l'Anarchie!''}}
  
Após o julgamente ele se recusou a apelar para a Corte de Cassation  ou solicitar uma prorragação do presidente da república. Até hoje sua participação em dois dos assassinatos pelo qual estava sendo julgado é motivo de dúvidas entre os historiadores.
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Após o julgamento Ravachol se recusou a apelar para a Corte ou solicitar uma prorrogação junto ao Presidente da República. Até hoje sua participação em dois dos assassinatos pelos quais foi condenado é motivo de dúvidas entre os historiadores.
  
 
=== Execução ===
 
=== Execução ===
[[Image:Partition de La Ravachole.png|thumb|215px|right|Partitura de ''[[La Ravachole]]'']]No dia [[11 de Julho]] de [[1892]] Ravachol foi [[guilhotina|guilhotinado]] em [[Montbrison]], aos 32 anos de idade, pelo estado francês. Naquela mesma manhã um telegrama seria emitido pelo estado que o executou descrevendo as últimas ações de Ravachol e o contexto em que se deu sua decapitação.
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[[Imagem:Partition de La Ravachole.png|thumb|300px|right|Partitura de ''[[La Ravachole]]'']]No dia [[11 de Julho]] de [[1892]] Ravachol foi [[guilhotina]]do em [[Montbrison]], aos 32 anos de idade, pelo Estado francês. Naquela mesma manhã um telegrama seria emitido pelo Estado que o executou descrevendo as últimas ações de Ravachol e o contexto em que se deu sua decapitação.
  
{{quote|''A Justiça foi feita esta manhã às 4:05 sem incidentes ou protestos de qualquer tipo. Ele acordou às 3:40. O condenado recusou a presença do capelão e declarou que não tinha nada para confessar. Inicialmente pálido e trêmulo logo ele demonstrou um cinismo afetado e exacerbação aos pés do patíbulo momentos antes da execução. Em voz alta ele cantou rapidamente uma curta canção blasfema e revoltantemente obcena. Ele não pronunciou a palavra 'anarquia', e quando sua cabeça foi colocada no buraco ele emitiu um último grito de "Longa Vida a Re..." Uma calma completa reinou na cidade. E assim aconteceu como reportado.''<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/telegram.htm Telegrama de Anúncio da execução]</ref>}}
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{{quote|''A Justiça foi feita esta manhã às 4:05 sem incidentes ou protestos de qualquer tipo. Ele acordou às 3:40. O condenado recusou a presença do capelão e declarou que não tinha nada para confessar. Inicialmente pálido e trêmulo logo ele demonstrou um cinismo afetado e exacerbação aos pés do patíbulo momentos antes da execução. Em voz alta ele cantou rapidamente uma curta canção blasfema e revoltantemente obcena. Ele não pronunciou a palavra 'anarquia', e quando sua cabeça foi colocada no buraco ele emitiu um último grito de "Longa Vida a Re..." Uma calma completa reinou na cidade. E assim aconteceu como reportado.''<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/telegram.htm Telegrama de Anúncio da Execução]</ref>}}
  
A canção descrita pelas autoridades como 'obcena' e 'blasfema' cantada por Ravachol aos pés do patíbulo foi a "''[[La Ravachole]]''", uma paródia da "''[[La Carmagnole]]''" popularmente criada em sua homenagem <ref>http://increvablesanarchistes.org/articles/avan1914/pere_peinard.htm#bas</ref>. Seus executores consideraram que a palavra cortada pela lâmina da [[guilhotina]] era "República", no entanto, é evidente que a palavra era de fato "Revolução"<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/telegram.htm Telegrama de Anúncio da execução]</ref>.
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A canção descrita pelas autoridades como 'obcena' e 'blasfema' cantada por Ravachol aos pés do patíbulo foi a "''[[La Ravachole]]''", uma paródia da "''[[La Carmagnole]]''" popularmente criada em sua homenagem <ref>http://increvablesanarchistes.org/articles/avan1914/pere_peinard.htm#bas</ref>. Seus executores consideraram que a palavra cortada pela lâmina da [[guilhotina]] era "República", no entanto, é evidente que a palavra era de fato "Revolução"<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/1892/telegram.htm Telegrama de Anúncio da Execução]</ref>.
  
 
== Ciclo de revanches ==
 
== Ciclo de revanches ==
 
[[Imagem:Ravachol Portrait.jpg|thumb|left|Foto de Ravachol enviada por [[Sante Caserio]] à viúva de [[Sadi Carnot]], o presidente que acabara de assassinar. Junto um escrito ''Está bem vingado''.]]  
 
[[Imagem:Ravachol Portrait.jpg|thumb|left|Foto de Ravachol enviada por [[Sante Caserio]] à viúva de [[Sadi Carnot]], o presidente que acabara de assassinar. Junto um escrito ''Está bem vingado''.]]  
Além da bomba de [[Théodule Meunier]] colocada no café Véry na noite do primeiro julgamento de Ravachol muitas outras ações violentas seriam orquestradas por anarquistas ilegalistas depois de sua morte.
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Além da bomba de [[Théodule Meunier]] colocada no Café Véry, na noite do primeiro julgamento de Ravachol, muitas outras ações violentas seriam orquestradas por anarquistas ilegalistas depois de sua morte.
  
Em [[8 de Novembro]] de 1892 uma bomba deixada na delegacia de polícia da rua des Bons Enfants explodiu matando seis pessoas. Seu autor, o anarquista [[espanhol|espano]]-[[francês]] [[Émile Henry]] escapa da polícia com a qual chega a trocar tiros em meio as ruas de Paris.
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Em [[8 de Novembro]] de 1892 uma bomba deixada na delegacia de polícia da rua des Bons Enfants explodiu matando seis pessoas. Seu autor, o anarquista [[espanhol|espano]]-[[francês]] [[Émile Henry]] escapa da polícia com a qual chega a trocar tiros em meio às ruas de Paris.
  
Em [[9 de Dezembro]] de [[1893]], [[Auguste Vaillant]] lançou uma bomba dentro do [[Palácio Bourbon]], no salão da [[Assembléia Nacional Francesa]]. A bomba feita de pregos feriu 80 dos políticos que lá estavam, sem, no entanto, matar ninguém. Por esse ato Auguste Vaillant foi caçado, preso e também guilhotinado em [[3 de Fevereiro]] de [[1984]]<ref>http://www.pco.org.br/revista_digital/2006/julho/cgt_cartaamiens.htm</ref>.
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Em [[9 de Dezembro]] de [[1893]], [[Auguste Vaillant]] lança uma bomba dentro do [[Palácio Bourbon]], no salão da [[Assembleia geral|Assembléia Nacional Francesa]]. A bomba feita de pregos fere 80 dos políticos que lá estavam, sem, no entanto, matar nenhum deles. Por esse ato Auguste Vaillant foi caçado, preso e também guilhotinado em [[3 de Fevereiro]] de [[1984]].
  
A morte de Vaillant, por sua vez, seria vingada também por [[Émile Henry]] que, em [[12 de Fevereiro]] de [[1894]] lançaria uma bomba no luxuoso Café do Hotel Terminus, matando uma pessoa e ferindo outras vinte. Desta vez Henry seria preso e enviado para guilhotina em [[21 de Maio]] daquele mesmo ano.  
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A morte de Vaillant, por sua vez, seria vingada também por [[Émile Henry]] que, em [[12 de Fevereiro]] de [[1894]] lança outra bomba no luxuoso Café do Hotel Terminus, matando uma pessoa e ferindo outras vinte. Desta vez Henry seria preso e enviado para guilhotina em [[21 de Maio]] daquele mesmo ano.  
  
Meses depois, o anarquista italiano [[Sante Geronimo Caserio]] vingaria Vaillant, Ravachol e Henry apunhalando até a morte o presidente da República Francesa [[Marie François Sadi Carnot]] em [[24 de Junho]] de [[1894]].
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Meses depois,em [[24 de Junho]] de [[1894]], o anarquista italiano [[Sante Geronimo Caserio]] vingaria Vaillant, Ravachol e Henry apunhalando até a morte o Presidente da República Francesa [[Marie François Sadi Carnot]].
  
Ravachol é mais um elo visível de uma cadeia de [[ação direta|ações diretas]], [[assassinato|execuções]] e [[vingança]]s que marcaria indelevelmente o final do [[século XIX]] bem como o início do [[século XX]]. A partir dela, governantes e capitalistas da América e da Europa especulariam sobre a existência de um gigantesco complô internacional anarquista para assassinar líderes e burgueses de todo o mundo. À sua época, esta suposta conspiração, chamada também de a [[Internacional Negra]], foi utilizada amplamente pelos jornais para demonizar as idéias anarquistas e, de quebra, ampliar a margem de vendas.
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Ravachol é mais um elo visível da cadeia de [[ação direta|ações diretas]], [[assassinato|execuções]] e [[vingança]]s que marcariam inexoravelmente o final do [[século XIX]] bem como o início do [[século XX]]. A partir dela, governantes e capitalistas da América e da Europa especulariam sobre a existência de um gigantesco complô internacional anarquista para assassinar líderes e burgueses de todo o mundo. À sua época, esta suposta conspiração, chamada também de a [[Internacional Negra]], foi utilizada amplamente pelos jornais para demonizar as idéias anarquistas e, de quebra, ampliar a margem de vendas.
  
 
== O mito ==
 
== O mito ==
[[Imagem:Ravacholcolor.gif|thumb|200px|Gravura de Ravachol diante da guilhotina por [[Charles Maurin]], colorida por [[Eric Beaunie]].]]A respeito da memória de Ravachol, as difertentes correntes anarquistas seguem se dividindo até os dias de hoje. Enquanto grupos intelectuais adeptos das vertentes pacifistas se negaram a lhe conceder um lugar, considerando-o um simples delinqüente que tomaria posteriormente a causa anarquista como justificativa de seus atos,<ref>García Mañas, José Luis [http://usuarios.lycos.es/nggabua/monografies/terrorismoanarquista.html La represión del terrorismo anarquista] consultado el 17 de abril de 2007.</ref>, outros, adeptos das ação direta radical transformaram-no em um símbolo romanticizado da revolta desesperada, um ícone de seu tempo<ref>Aragón, Luis [http://madrid.indymedia.org/newswire/display/315/index.php Ravachol vuelve!] consultado el 17 de abril de 2007.</ref>.  
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[[Imagem:Ravacholcolor.gif|thumb|200px|Gravura de Ravachol diante da guilhotina por Charles Maurin, colorida por Eric Beaunie.]]A respeito da memória de Ravachol, as difertentes correntes anarquistas seguem se dividindo até os dias de hoje. Enquanto grupos adeptos das vertentes pacifistas se negaram a lhe conceder um lugar, considerando-o um simples delinqüente que tomaria posteriormente a causa anarquista como justificativa de seus atos<ref>García Mañas, José Luis [http://usuarios.lycos.es/nggabua/monografies/terrorismoanarquista.html La represión del terrorismo anarquista] consultado el 17 de abril de 2007.</ref>, outros, adeptos das ação direta radical, transformaram-no em um símbolo romântico da revolta desesperada, um ícone de seu tempo<ref>Aragón, Luis [http://madrid.indymedia.org/newswire/display/315/index.php Ravachol vuelve!] consultado el 17 de abril de 2007.</ref>.  
  
O historiador francês [[Jean Maitrón]] escreveria um livro entitulado ''Ravachol e os Anarquistas''; tal obra trata amplamente da influência das ações de Ravachol sobre os grupos anarquistas subseqüentes.<ref>Agapea [http://www.agapea.com/Ravachol-y-los-anarquistas-n153864i.htm Ravachol y los Anarquistas] consultado el 17 de abril de 2007.</ref>
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O historiador francês [[Jean Maitrón]] escreveria um livro intitulado ''Ravachol e os Anarquistas''; tal obra trata amplamente da influência das ações de Ravachol sobre os grupos anarquistas subseqüentes.<ref>Agapea [http://www.agapea.com/Ravachol-y-los-anarquistas-n153864i.htm Ravachol y los Anarquistas] consultado el 17 de abril de 2007.</ref>
  
De fato Ravachol e outros ilegalistas de seu tempo, muitos dos quais vingaram sua execução com bombas e assassinatos, se tornariam referências vigorosas que atravessaram os séculos influenciando coletivos anarquistas como o [[Bando Bonnot]] na França da década de 1910, e [[Los Solidarios]] na [[Espanha]] dos anos 1920, e gerações de [[Anarquismo expropriador|anarquistas expropriadores]] que até os dias de hoje permanecem ativos em todo o mundo.
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De fato Ravachol e outros ilegalistas de seu tempo, muitos dos quais vingaram sua execução com bombas e assassinatos, se tornariam referências vigorosas que atravessaram os séculos influenciando coletivos anarquistas como o [[Bando Bonnot]] na França da década de 1910, e [[Los Solidarios]] na [[Espanha]] dos anos 1920, e gerações de anarquistas expropriadores que até os dias de hoje permanecem ativos em todo o mundo.
  
{{quote|''Deixemos de lado o suicídio induzido pelo cansaço, que como um último sacrifício coroam todos aqueles que se foram antes. É melhor uma última risada à [[Arthur Cravan|Cravan]], ou uma última canção à Ravachol.''|[[Raoul Vaneigem]], A Revolução da Vida Cotidiana}}
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{{quote|''Deixemos de lado o suicídio induzido pelo cansaço, que como um último sacrifício coroam todos aqueles que se foram antes. É melhor uma última risada à Cravan, ou uma última canção à Ravachol.''|[[Raoul Vaneigem]], A Revolução da Vida Cotidiana}}
  
 
== Curiosidades ==
 
== Curiosidades ==
* Ravachol continuou vivo na memória popular francesa, sendo motivo de muitas músicas em sua honra. A palavra ''ravacholiser'' de invenção anônima foi utilizada para descrever o ato de lançar bombas<ref>http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm</ref>.
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* Ravachol continuou vivo na memória popular francesa, sendo motivo de muitas músicas em sua honra e memória<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor]</ref>.
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* A palavra ''ravacholiser'' de invenção anônima foi utilizada para descrever o ato de lançar bombas<ref>[http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/biography.htm Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor]</ref>.
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* O nome de Ravachol é citado na primeira estrofe do Hino [[Anarcoindividualismo|Anarco-individualista]] - "''Antes de morrermos a beira da estrada, Imitemos a [[Gaetano Bresci|Bresci]] e a Ravachol...''".
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* Os Fãs do desenho animado [[Tintin]] também podem notar que ''Ravachol'' é um termo utilizado por diversas vezes pelo [[Capitão Haddock]] como uma forma de insulto.
 
* Os Fãs do desenho animado [[Tintin]] também podem notar que ''Ravachol'' é um termo utilizado por diversas vezes pelo [[Capitão Haddock]] como uma forma de insulto.
* Como uma forma de homenagem, no início do século XIX o boticário [[Perfecto Feijoo]] da cidade [[Espanha|espanhola]] de [[Pontevedra]] nomeou seu [[papagaio]] de estimação de Ravachol. Tornando-se muito popular este animal acabou se tornando o símbolo do carnaval daquela cidade.
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* No final do século XIX o boticário Perfecto Feijoo da cidade [[Espanha|espanhola]] de [[Pontevedra]] nomeou seu [[papagaio]] de estimação de Ravachol em homenagem ao famoso anarquista. Ganhando grande popularidade o papagaio acabou tornando-se um símbolo do Carnaval daquela cidade até os dias atuais.
  
 
== Notas e referências ==
 
== Notas e referências ==
[[Image:Costantini - Ravachol - Atentado a Bulot.jpg|thumb|250px|right|Arte de [[Flavio Costantini]] em referência ao atentado ao procurador da república M. Bulot]]
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[[Imagem:LoroRavachol2008.JPG|thumb|right|O louro Ravachol desfila pelas ruas de Pontevedra no carnaval.]]
 
* Jean Maitron, Ravachol et les Anarchistes. Paris, Julliard, 1964
 
* Jean Maitron, Ravachol et les Anarchistes. Paris, Julliard, 1964
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== {{Ligações externas}} ==
 
== {{Ligações externas}} ==
* [http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/ Arquivo de Referências sobre Ravachol].
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* [http://www.marxists.org/reference/archive/ravachol/ Arquivo de Referências sobre Ravachol] {{en}}
* [http://www.spunk.org/library/fiction/mirbeau/sp001687.html "Ravachol"], por [[Octave Mirbeau]].
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* [http://www.spunk.org/library/fiction/mirbeau/sp001687.html "Ravachol"], por [[Octave Mirbeau]] {{en}}.
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* [[wikisource:La Ravachole|La Ravachole]]{{en}}
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* [[wikisource:fr:La Ravachole|La Ravachole]] {{fr}}
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* [http://pt.wikisource.org/wiki/O_perigo_anarquista O perigo anarquista, onde seu autor Rui Barbosa cita Ravachol, no Wikisource]. {{pt}}
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== {{Veja também}} ==
 
== {{Veja também}} ==
* [[Internacional Negra]]
 
 
* [[Leon Czolgosz]]
 
* [[Leon Czolgosz]]
* [[Ação Direta]]
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* [[Giovanni Rossi]]
* [[Propaganda pelo Ato]]
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* [[Paulino Pallás]]
 
* [[Paulino Pallás]]
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* [[Jules Bonnot]]
 
* [[Shūsui Kōtoku]]
 
* [[Shūsui Kōtoku]]
 
* [[Salvador Puig Antich]]
 
* [[Salvador Puig Antich]]
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{{biografias}}
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{{Anarcoilegalistas}}
  
 
{{biografias}}
 
 
[[Categoria:Anarquistas executados]]
 
[[Categoria:Anarquistas executados]]
 
[[Categoria:Anarquistas da França]]
 
[[Categoria:Anarquistas da França]]
[[Categoria:Anarquistas Bombardeadores]]
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[[Categoria:Anarquistas bombardeadores]]
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[[Categoria:Anarquistas da Internacional Negra]]
 
[[Categoria:Libertários]]
 
[[Categoria:Libertários]]
[[Categoria:Anarquistas da Internacional Negra]]
 
 
[[gl:François Claudius Koënigstein]]
 
  
 
[[de:Ravachol]]
 
[[de:Ravachol]]
 
[[en:Ravachol]]
 
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[[fr:Ravachol]]
 
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[[gl:François Claudius Koënigstein]]
 
[[it:Ravachol]]
 
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[[pl:Ravachol]]
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[[pl:François Claudius Koeningstein]]
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[[sv:Ravachol]]

Latest revision as of 17:23, 15 Dezembro 2008

Este artigo é baseado no artigo Ravachol da Wikipédia. W

COCs {have|have actually} been {shown|revealed} to {increase|enhance|boost|raise} both the Template:relative {risks|dangers|threats} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] of cerebrovascular {events|occasions} (thrombotic {and|and also|as well as} hemorrhagic {strokes|movements}), although, {in {general|basic}|generally|as a whole|typically}, the {risk|danger|threat} is {greatest|biggest|best} {among|amongst} older (> 35 years {of age|old}), hypertensive {women|ladies|females} {who|that|which} {also|likewise|additionally} smoke. All the {side {effects|results|impacts}|adverse effects|negative effects|negative side effects} {mentioned|discussed|pointed out|stated} are {generally|typically|normally|usually} {mild|moderate|light} and {{tend|have a tendency|often tend|usually tend} to|have the tendency to|often} {go away|disappear|vanish} after {{a couple|a married couple} of|a few|a number of} {hours|hrs}. {If they Template:repeat with your life {report|record} them to your {{health|wellness|health and wellness|safety} {care|treatment}|healthcare|medical} {provider|service provider|company|supplier|carrier} as your {dose|dosage|amount} {may|might|could} {{need|require|really need} to|have to|should} be {lowered|reduced|decreased} to {eliminate|get rid of|remove|do away with} the {symptoms|signs}. |, if #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] they {repeat {or|duplicate} interfere|interfere {or|duplicate} repeat} {with|meddle|conflict} your {life|meddle|conflict} report {them|duplicate} to your health care {provider|record} as your dose {may|wellness|health and wellness|safety} {need|treatment} {to|service provider|company|supplier|carrier} be lowered {to|dosage|amount} {eliminate|might|could} {the|require|really need} symptoms. Acomplia {has|has actually} been {designed|created|developed|made} for the {needs|requirements|demands|necessities} of {patients|clients|people} {who|that} {require|need|call for} {losing|shedding} some weight, {because|since|due to the fact that} it {increases|enhances|raises|boosts|improves} their {personal|individual} {risk|danger|threat} of #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {developing|establishing|creating} {serious|major|severe|significant} {health|wellness|health and wellness} {problems|issues|troubles}. {Respiratory|Breathing} {side {effects|results|impacts}|adverse effects|negative effects|negative side effects} {{associated|connected|linked} with|connected with|related to|linked with} irbesartan that {have|have actually} {occurred|happened|taken place} in {treated|cured} {patients|clients|people|individuals} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] at {rates|prices} {less|much less} {than|compared to} or {{similar|comparable} to|just like|much like} {placebo|sugar pill|inactive medicine} {have|have actually} {included|consisted of} pharyngitis, rhinitis, tracheobronchitis, {pulmonary|lung} {congestion|blockage}, dyspnea, {and|and also|as well as} {wheezing|hissing}. Taking {any of|any one of} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] these {medicines|medications} with an NSAID {may|might|could} {cause|trigger|create|induce} you to {bruise|wound} or {bleed|hemorrhage} {easily|quickly|conveniently|effortlessly}. You {will|will certainly} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {have to|need to} {let|allow|permit} your {doctor|physician|medical professional} {know|understand|recognise} if there are {any|any type of|any kind of|any sort of} {side {effects|results|impacts}|adverse effects|negative effects|negative side effects} you {develop|establish|create}, such as {stuffy|stale} nose, {redness|soreness|inflammation} in the face or neck, {headache|frustration|problem|hassle}, {dizziness|lightheadedness}, {runny|drippy|dripping} nose, {upset {stomach|tummy|belly}|indigestion}, {back {pain|discomfort}|pain in the back} {as well as|in addition to|along with|and also} {warmth|heat} in your face or {chest|breast|upper body}. You {can|could} {{find|discover|locate} out|discover|learn|figure out} where those are by seeing our {special|unique} {comparison|contrast} {page|web page} and {making {a decision|a choice}|deciding|choosing} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] right there. Propecia (finasteride) is {a medicine|a medication} your {{health|wellness|health and wellness} {care|treatment}|healthcare|medical} {provider|service provider|company|supplier|carrier} {can|could} {prescribe|recommend|suggest} if you {have|have actually} been {diagnosed|identified|figured out|detected} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {with|from} {male {pattern|design} {baldness|hairloss|hair thinning|hair loss}|male pattern hair loss} and {{need|require|really need} to|have to|should} be {using|utilizing} this {medicine|medication} to re-grow your hair. {Drinking|Consuming} {alcohol|liquor|alcoholic beverages} {can|could} {further|even more|additionally} {lower|reduce|decrease} your blood {pressure|stress|tension} {and|and also|as well as} {may|might|could} {increase|enhance|boost|raise} {certain|specific|particular} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {side {effects|results|impacts}|adverse effects|negative effects|negative side effects} of Avapro. You have {a choice|an option|a selection} {of which|which} day to {start|begin} taking your {first|very first|initial} pack of {pills|tablets|supplements}. {Decide|Choose|Make a decision|Determine} with your {doctor|physician|medical professional} or {healthcare|health care|medical care} {provider|service provider|company|supplier|carrier} which is {the {best|finest|ideal}|the very best|the most effective} day for you. {Pick|Choose|Select} a time of day #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] which {will|will certainly} be {easy|simple|very easy} {to {remember|keep in mind|bear in mind}|to keep in mind|to bear in mind}. {If you are {thinking|believing} there {must|should|need to|have to} be {{a much|a considerably} {more|a lot more}|a a lot more|a far more} {convenient|practical|hassle-free|beneficial} {way|method|means} {to {get|getting|obtain}|to obtain} your {treatment|therapy|procedure}, you are right.|If you are {thinking|believing} there {must|should|need to|have to} be {a much|a considerably} {more|a lot more} {convenient|practical|hassle-free|beneficial} {way|method|means} to {get|getting|obtain} your {treatment|therapy|procedure}, you are.|You are right if you are {thinking|believing} there {must|should|need to|have to} be {a much|a considerably} {more|a lot more} {convenient|practical|hassle-free|beneficial} {way|method|means} to {get|getting|obtain} your {treatment|therapy|procedure}.} There are hundreds of {pharmacies|drug stores} {out there|available|around} {{waiting|hanging around|standing by} for|awaiting} you {to come|ahead} by and {place|put|position} an order, and they {sell|offer|market} Sildenafil {in {bulk|mass}|wholesale} whenever you {{feel|really feel} like|seem like} it. {Just|Simply} {imagine|picture|think of|envision|visualize} - you #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {no longer|not|no more} {have to|need to} {wonder|question|ask yourself} if the {pharmacy|drug store} of your {choice|option|selection} {will|will certainly} {ask for|request|request for} {a prescription|a prescribed}, {because|since|due to the fact that} it {will|will certainly} not. The following {side {effects|results|impacts}|adverse effects|negative effects|negative side effects} of Levaquin {are {common|typical|usual}|prevail} and do not {{need|require|really need} to|have to|should} be {reported|stated|mentioned} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] to your Template:health, Drug Interactions). This {can|could} be {breast|bust} {cancer|cancer cells} that {has|has actually} {{spread|spread out|dispersed} to|infected} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {other|various other|people} {parts|components} of the {body|physical body} or {cancer|cancer cells} in {females|girls|ladies} that {have|have actually} been {treated|addressed|managed} {with|from} chemotherapy. If you are #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {already|currently} on some {drug|medicine}, either {prescription|prescribed} or {over-the-counter|non-prescription|over the counter}, {tell|inform} your {doctor|physician|medical professional} {about|regarding|concerning} it {before|prior to} {asking for|requesting|requesting for} {a prescription|a prescribed}. The {following|complying with|adhering to} are #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] most {popularly|commonly|widely|famously} {prescribed|recommended|suggested} nitrate-based {medicines|medications} ({usually|typically|normally|generally|often} {intended|meant|planned} for {chest|breast} {pain|discomfort}): isosorbide {dinitrate, nitroglycerin and isosorbide|dinitrate, isosorbide and nitroglycerin|nitroglycerin, dinitrate and isosorbide|nitroglycerin, isosorbide and dinitrate|isosorbide, dinitrate and nitroglycerin|isosorbide, nitroglycerin and dinitrate} mononitrate. Do not #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {combine|incorporate|integrate} Cymbalta we with {{any|any type of|any kind of|any sort of} {other|various other|people}|other} {medications|medicines} without your {{health|wellness|health and wellness} {care|treatment}|healthcare|medical} {provider|service provider|company|supplier|carrier}'s {consent|permission|authorization|approval}. You {will|will certainly} {{need|require|really need} to|have to|should} {tell|inform} your {{health|wellness|health and wellness} {care|treatment}|healthcare|medical} {provider|service provider|company|supplier|carrier} if you have {any of|any one of} the following {medical|clinical|health care} {conditions|problems|disorders} {before|prior to} {starting|beginning} the {treatment|therapy|procedure} as they {can|could} {significantly|considerably|substantially|dramatically} {affect|impact|influence|have an effect on} the {dose|dosage|amount} you are {prescribed|recommended|suggested}: {history|past|record} of painful/prolonged {erection|construction}, blood system {cancers|cancers cells}, coronary {artery|canal} {disease|illness|condition}, {bleeding|hemorrhaging} {disorders|conditions|ailments}, {active|energetic} {stomach|tummy|belly} {ulcers|abscess|lesions}, Peyronie's {disease|illness|condition}, sickle cell anemia, fibrosis/scarring, eye {problems|issues|troubles}, penis angulation, liver {disease|illness|condition}, {recent|current} {stroke|movement}, #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] and {kidney|renal|renal system} {disease|illness|condition}. The {patients|clients|people|individuals} {started|began} taking Styplon {three|3} days {before|prior to|just before} their {respective|particular|corresponding} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {surgery|surgical treatment|surgical procedure} {procedures|treatments}. The {recommended|suggested|advised} {dose|dosage} of Astelin ® Nasal Spray in {children|kids|youngsters} 5 years to 11 years {of age|old} is one spray {per|each} nostril #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {twice|two times} daily. There are {a number of|a variety of|a lot of} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] {health|wellness|health and wellness} {problems|issues|troubles} that {can|could} make your {treatment|therapy|procedure} {less|much less} {efficient|effective|reliable}. If you {are {allergic|sensitive} to|dislike} tretinoin of {other|various other} {medications|medicines} (acitretin, etretinate, isotretinoin, tretinoin) it's #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] not {recommended|suggested|advised} to take this {drug|medicine}. Retin-{A should|An ought to|A must|A needs to} not be {{applied|used} to|put on} {open|open up} {wounds|injuries|cuts}, chapped, wind burned or {irritated|inflamed|aggravated} skin to {avoid|prevent|stay clear of|stay away from} {complications|problems|issues|difficulties}. {Some of|A few of|Several of} the {common|typical|usual} {side {effects|results|impacts}|adverse effects|negative effects|negative side effects} {include|consist of|feature} burning, Template:tingling in the skin, {slight|small|mild} peeling of the skin, {redness|soreness|inflammation}, dryness, warmness and chapping of the skin. {If these {side {effects|results|impacts}|adverse effects|negative effects|negative side effects} Template:persist in {intensity|magnitude|strength} consult your {doctor|physician|medical professional} {right away|immediately|as soon as possible|straightaway|without delay|promptly} to {avoid|prevent|stay clear of|stay away from} {worsening|intensifying|aggravating|getting worse} of the {condition|problem|disorder}. |, if these side {effects|results|impacts} {persist {or|continue|linger} change|change {or|continue|linger} persist} {in|alter|transform} intensity {consult|alter|transform} your {doctor|continue|linger} right away {to|magnitude|strength} avoid worsening {of|physician|medical professional} the condition..} {Some time|Time|A long time} {{needs|requires|really needs} to|has to|should} pass {before|prior to} #file_links<>links/imp_files/19.08.15.txt",1,S] you {will|will certainly} {notice|discover|see|observe} {significant|considerable|substantial} {improvement|enhancement|renovation}. Nascido François Claudius Koeningstein, mais conhecido como Ravachol, (Saint-Chamond, 14 de Outubro de 1859Montbrison, 11 de Julho de 1892) foi um dos mais famosos anarquistas ilegalistas franceses, tornando-se a seu tempo o arquétipo do "anarquista lançador de bombas" através de suas ações diretas violenta contra a corrupta Terceira República Francesa[1]. Da perspectiva legalista e capitalista Ravachol entrou para história como um dos grandes terroristas do século XIX.

Biografia[editar]

Primeiros anos[editar]

Ravachol não precisou imaginar os horrores da vida da classe trabalhadora na França do Século XIX, nascido em uma família pobre, trabalhou desde os 8 anos, depois que o pai, Jean Adam Koeningstein, um marinheiro holandês, abandonou a família, fazendo com que o jovem François Claudius adotasse o nome de solteiro de sua mãe, Marie Ravachol, uma humilde costureira desempregada. Desde aquela época Ravachol teve que buscar maneiras para sustentar sua mãe, uma irmã e um irmão mais novos, e posteriormente também um sobrinho. Para isso vagou pela França atrás de trabalho pelo qual recebia quase nada.

Foi assistente de pintor, trabalhou em uma tinturaria e, como forma de incrementar a renda familiar, chegou a tocar acordeão nos salões sociais aos domingo em Saint-Étienne. No entanto, nenhuma dessas tarefas durava tempo suficiente ou garantia o mínimo que sua família necessitava para a sobrevivência. Possuindo uma inteligência incomum, não demorou muito para que o jovem Ravachol passasse a relacionar sua miséria pessoal ao sistema capitalista[2]. O escritor Paul Adam diria posteriormente sobre o surgimento de Ravachol:

«"Neste tempo de cinismo e ironia, um santo nasceu para nós"[3]


Crimes[editar]

Depois de anos de dificuldade, Ravachol se viu forçado a uma vida de crime como forma de sobrevivência. Poucos revolucionários possuem entre suas ocupações prévias a função de ladrão de túmulos, no entanto Ravachol, não era nem um criminoso ordinário nem um anarquista comum. Nessa época já havia trabalhado como falsificador (através dos conhecimentos em química que obtivera trabalhando como diarista em uma tinturaria) e contrabandista.

Chamado no meio anarquista de "voz da dinamite", Ravachol se contrapunha à moralidade burguesa, tida por ele como uma forma de preconceito sempre em desfavor aos pobres. Nesse sentido, não admitia limites para a ação revolucionária, considerando a propriedade e o Estado eles sim imorais e criminosos. Daí justificava os atos aos quais recorrera, considerados repreensíveis por muitos, como forma de sobrevivência e apoio à causa anarquista.

Latrocínio a Rivollier[editar]

[[Imagem:Costantini - Ravachol - Saint Etiene.jpg|thumb|left|Ravachol e Rulhière em Saint Etienne na obra de Flavio Costantini.]]

Na noite de 29 de Março de 1886 Ravachol teria supostamente cometido os primeiros assassinatos, em um assalto nos arredores da vila de La Varizelle, próximo à St Chamond, na casa de um ancião, chamado Rivollier que, como alardeavam os boatos, possuía guardada em sua casa uma quantia considerável acumulada.

Em La Varizelle, Ravachol, armado com uma machadinha, teria arrombado a casa, surpreendendo Rivollier em sua cama. Com um só golpe na cabeça, o ilegalista teria ferido mortalmente o senhor Rivollier sem que esse sequer levantasse de sua cama. Uma serviçal que estava na casa fugira em desespero pela estrada, sendo supostamente perseguida e também morta por ele. Em seguida, Ravachol teria voltado para dentro da casa, e procurado desesperadamente por dinheiro, arrombando armários e gavetas, encontrando poucas coisas de valor.

Ao contrário de outros crimes e mesmo assassinatos, este nunca fora assumido por Ravachol, historiadores atuais consideram ser grande a possibilidade de que a autoria deste duplo assassinato tenha sido forjada e induzida pela polícia que precisava dar conta de um caso a anos sem resolução, nem suspeitos reais. Em grande medida o testemunho da companheira de Ravachol, Rulhière, seria posteriormente utilizado como evidência por ocasião do julgamento na corte de Assisses. Visivelmente transtornada durante as seções, Rulhière testemunhou provavelmente sob a ameaça de mais torturas.[4].

Violação do túmulo da Baronesa de Rochetaillé[editar]

Cinco anos depois, na noite de 14 de Maio de 1891 Ravachol violaria o túmulo da Baronesa de Rochetaillé no Cemitério de Saint Jean de Bonnefond, depois de dar ouvidos ao rumor que afirmava que a nobre teria sido enterrada com suas jóias. Após escalar o muro do cemitério, ergueu a pedra da tumba pesando 120 quilos e retirou um caixão de carvalho colocado no lugar por três cabos de ferro. Quebrando os selos, Ravachol encontrou apenas uma cruz de madeira e sacos de cerragem junto ao corpo putrefado. Em um trecho do relato escrito de próprio punho:

«"...sem emprego, fiz para mim mesmo dinheiro falso, um meio não muito lucrativo mas perigoso, logo eu o abandonei. [[Imagem:Costantini - Ravachol - Cemetery.JPG|thumb|right|200px|Ilustração do artista Flavio Costantini mostrando Ravachol violando o túmulo da Baronesa de Rochetaillé.]]Ouvi dizer que uma baronesa chamada de Rochetaillé tinha sido enterrada a pouco tempo. Pensei que ela deveria ter algumas jóias consigo, então eu resolvi violar a tumba. Um dia consegui para mim uma lanterna de gancho e um pé-de-cabra. (...) Cheguei ao cemitério às 11:00h. Antes de entrar, comi meu pão e bebi um pouco de vinho, escalei a parede e me dirigi ao túmulo que inspecionei com atenção. Então usei meu pé-de-cabra para empurrar a pedra do mausoléu e entrei nele; vendo o nome, fui buscando na pedra de mármore. Eu mesmo abri a gaveta com o pé-de-cabra. Então, como a pedra não podia cair sobre mim, fui para um compartimento vazio ao lado dela. Na queda a pedra fez um barulho muito alto e se quebrou em muitos pedaços. (...) Depois tentei encaixar meu pé-de-cabra na fenda do caixão e consegui fazê-lo. Forcei para abrir as tábuas pressionando sobre elas, mas tinha uma camada de tecido enrolada em torno do corpo. Eu rasguei-a com a ponta do pé-de-cabra e fiz uma abertura grande o suficiente para tirar para fora o braço para ver a mão direita dela. Tive que tirar vários pacotes pequenos que eu não sabia o que continham. Uma vez que o braço dela estava para fora, eu o puxei para perto e olhei atentamente para os dedos que estavam cobertos de bolor. Não consegui encontrar o que eu estava procurando. Olhei na garganta e não encontrei nada lá também, e desde que minha lanterna se apagou por falta de óleo, para terminar minha operação coloquei fogo num ramo de flores que encontrei na capela sobre os túmulos. Ele espalhou uma fumaça grossa enquanto queimava, o que me fez subir rapidamente se eu não quisesse morrer asfixiado. Quando abri o caixão tive medo apenas de que o gás asfixiante pudesse tomar conta do lugar, mas por eu estar com pressa de fazer o que era necessário não exitei, porque era preferível morrer arriscando a própria vida do que sucumbir de fome. Uma vez do lado de fora, coloquei a pedra de volta no lugar e comecei a voltar para casa, mas quando estava saindo, vi há 100 metros de distância dois homens vindo através dos campos que pareciam ter me visto e agora vinham para me parar. Coloquei minha mão em meu revólver e me abaixei um pouco. Eles passaram na minha frente sem dizer uma palavra. Mais tarde na rua De La Monta encontrei com um homem que de uns 100 metros me perguntou o caminho para o Chateau Creux. Eu não o entendi muito bem e ele se aproximou repetindo a questão. Disse a ele para me seguir, que eu ia para aquele lado. Ele disse para mim que eu estava usando uma barba falsa no rosto, o que me fez sorrir, já que eu pensei que não tinha nada a temer desse homem que estava completamente sozinho. Isso aconteceu na Rua De La Monta. Subindo a estação, eu mostrei a ele o caminho e continuei no meu. Voltei para casa"[5]»


Refletindo sobre este ato posteriormente Paul Adam escreveria:

«De todos os atos de Ravachol, um deles talvez simboliza melhor tanto ele quanto seu contexto. Ao abrir a sepultura desta velha e, tateando sobre aquelas mãos apodrecidas, buscar a jóia capaz de aliviar a fome de uma família de miseráveis por meses, ele demonstrou o quão vergonhosa é uma sociedade que enterra carcaças enfeitadas com luxo ao mesmo tempo em que, em um único ano, 91.000 indivíduos morrem de inanição entre as fronteiras do rico país de França, sem que ninguém pense nisso, a não ser ele e nós[6]


Assassinato de Jacques Brunel[editar]

thumb|left|Capa do jornal Le Progréss Ilustrê sobre o assassinato de Jacques Brunel.Buscando se afastar de Saint Chamond, outro dos famosos crimes de Ravachol aconteceria nas proximidades de uma vila chamada Chambles, onde morava um ancião chamado Jacques Brunel, conhecido localmente como "O Ermitão". Talvez motivado por votos religiosos, Brunel por mais de meio século habitara solitariamente uma cabana localizada num morro nas proximidades de Chambles, como os eremitas na idade média. Vivendo às custas da caridade, Brunel recebia sempre alimentos, roupas e dinheiro que lhes davam os habitantes da região, em troca afirmava que se lembraria deles no momento das suas orações. Gastando quase nada ou muito pouco em comida e abrigo, Ravachol considerou a possibilidade do velho talvez possuir muito dinheiro guardado.

Assim que chegou a Chambles, em 19 de Junho de 1891, Ravachol foi ao encontro de Brunel em sua cabana, encontrando o velho (de oitenta, ou noventa e dois anos de idade) deitado sobre uma cama miserável no canto da cabana. Segundo seu próprio depoimento Ravachol chegou e disse-lhe que lhe daria vinte francos para que rezasse por ele, se ele lhe desse em troca uma nota de cinqüenta francos. Brunel respondeu que não possuía nada para dar em troca, e que estava prestes a se levantar, talvez por desconfiar de seu visitante. Ao se levantar, o velho foi agarrado. Ravachol rapidamente colocou um lenço em sua boca e depois em seu pescoço, finalmente o estrangulando. Após uma busca rápida pela cabana, Ravachol encontrou moedas e notas por todos os lados, em panelas e copos, sob a cama, nos armários e atrás deles. De acordo com o próprio Ravachol o valor total encontrado na cabana do Ermitão ultrapassava os quinze mil francos (mil e seiscentas libras esterlinas) entre moedas de cobre, prata e ouro.

Ravachol conseguira mais ouro e prata do que ele poderia carregar. Trancando a cabine saiu para almoçar em um café próximo à estação ferroviária. O atendente do estabelecimento diria depois em testemunho que Ravachol, faminto, comera uma omelete de seis ovos, peixes assados, um bife, bebendo muito vinho. Estando seu trabalho sem conclusão, voltou à cabana do eremita e se fechou dentro dela, empilhando o dinheiro que encontrara. Existia mais do que ele poderia convenientemente levar embora, então ele foi para casa em Saint Etienne e contou para sua companheira sobre seus feitos, e na manhã seguinte, tomando uma condução, ambos foram para Chambles.

Voltando à cabana, levaram consigo uma mala, onde empilharam todo o ouro e prata e diversos outros bens de valor que encontraram no lugar. Junto com Rulhière, ele partira, não para sua casa em Saint Chamond, mas para Saint Etienne ao encontro de amigos. No dia seguinte dividiram parte da quantia entre as famílias de trabalhadores e anarquistas presos ou executados. Poucas horas depois de Ravachol e Rulhière terem deixado Chambles, uma pessoa da localidade encontraria o eremita morto em sua cama, com cinqüenta francos em moedas de bronze, jogados sobre o chão da cabana[7].

Primeira prisão e fuga[editar]

No entanto, sem perceber, Ravachol havia sido visto em suas idas e vindas à Chambles, sendo procurado e detido por policiais, junto com sua companheira e dois outros homens - Pierre Crozet e Claude Fachard - com os quais havia deixado algumas das coisas roubadas da cabana de Brunel.

Por sorte ou ironia do destino, no momento em que estava sendo conduzido para a prisão pelos guardas, sua escolta deu de encontro com um homem alcoolizado que cambaleava em direção ao grupo, em meio à confusão Ravachol conseguiu escapar de seus captores. Rulhière, Fachard e Crozet não tiveram a mesma sorte, sendo presos e interrogados sob severas torturas. Posterioremente foram julgados e condenados respectivamente a penas de sete, cinco e um anos de prisão.

Após a fuga, Ravachol procurara por seus amigos, Jus-Beala e sua companheira Mariette Soubert, em Saint Etienne, encontrando refúgio na casa deste casal por algum tempo. Neste mesmo período outro duplo latrocínio aconteceria em Saint Etienne. Na noite de 27 de Julho, uma velha viúva e sua filha seriam mortas a golpes de martelo em um assalto a sua loja. Posteriormente, durante o julgamento de Ravachol, os promotores tentariam vincular tal crime a ele e a Jus-Beala, responsabilizando-os pelos assassinatos. Na versão da promotoria, Mariette Soubert teria por sua vez servido de olheira para o crime em frente à loja. No entanto, todas as provas se mostraram incongruentes. Jus-Beala e Soubert foram inocentados e, como o motivo do crime era claramente roubo e este acontecera a apenas cinco semanas após o assassinato em Chambles, Ravachol provavelmente não agiria com receio de atrair a atenção das autoridades, ainda mais quando teria ainda algum dinheiro roubado de Brunel[8].

Aproximação ao Anarquismo[editar]

Pouco tempo depois, Beala, Mariette e Ravachol, o último assumindo o pseudônimo de Louis Leger, deixaram Saint Etienne em direção a Saint Denis, um subúrbio ao norte de Paris. Lá tiveram contato com diversas organizações anarquistas. Ravachol que aprendera a ler e escrever por conta própria e que, até então, se considerava ateu e socialista desde ler, aos 18 anos, "Le juif errant" de Eugène Sue, encontraria entre os empregados das fábricas e trabalhadores de Saint Denis, verdadeiros entusiastas dos ideais libertários. Em pouco tempo passaria a se considerar um anarquista, assumindo para a si a tarefa de combater o capitalismo e o Estado.

Entre as vertentes anarquistas da época Ravachol e Beala se identificaram prontamente com os ilegalistas defensores da Propaganda pelo Ato; anarquistas que não estavam interessados em organizar movimentos de massa para derrubada da ordem burguesa. Ao invés disso, acreditavam que junto com a recusa ao pagamento de impostos e à participação no serviço militar, o assassinato de representantes do capitalismo e do Estado, os piores inimigos dos trabalhadores, seria a forma mais adequada para alcançar um mundo melhor[9].

Atentados[editar]

Motivações[editar]

thumb|right|300px|Desenho de reconstituição do massacre de 1 de Maio de 1891 em Clichy Em 1 de Maio de 1891, em Fourmies, uma manifestação realizada por trabalhadores e suas famílias em exigência de uma jornada laboral diária de oito horas acabou em um massacre. Pela primeira vez na França a recém-inventada metralhadora seria utilizada contra manifestantes desarmados, homens, mulheres e crianças, algumas carregando flores e folhas de palmeira. Catorze pessoas foram mortas e mais de quarenta acabaram gravemente feridas[10].

No mesmo dia, em Clichy, um grupo de anarquistas também protestando por melhores condições de trabalho foi violentamente abordado pela polícia. Ouve troca de tiros entre manifestantes e policiais. Após o confronto, dezenas de pessoas estavam mortas, três anarquistas - Henri Decamps, Charles Dardare e Louis Léveillé - foram então detidos e levados ao Comissário de Polícia para que sobre eles fosse colocada toda a responsabilidade do confronto. Dois deles foram condenados à morte em Agosto de 1891 com base em acusações falsas de assassinatos e delitos.

Entre os anarquistas de Saint Denis, Ravachol saberia dos ocorridos em Clichy, Fourmies e Levallois e das penas infrigidas a Decamp e Dardare, vistos a época como mártires da causa. Teria contato também com narrativas sobre a execução dos anarquistas espanhóis em Jeres.

A violência policial aos trabalhadores juntamente com a repressão aos communards sobreviventes (que datava já desde os tempos da insurreição da Comuna de Paris em 1871), bem como a condenação à morte de anarquistas na França e na Espanha levaria Ravachol a promover uma série de vinganças, na forma de sucessivos atentados à bomba contra operadores do Estado.

O roubo da dinamite[editar]

Com o objetivo de vingar os três mártires, juntou-se a um grupo de anarquistas que incluía Faugoux, Drouhet, Chalbret e Chaumentin, para roubar caixas de dinamite de um empreiteiro local, em Soisy-Sous-Etiolles, ao sul de Paris. Cento e vinte bananas de dinamite foram roubadas e deixadas em segredo sob os cuidados de um carpinteiro chamado Bricou, ele próprio também um anarquista. Ao serem notificadas sobre o roubo, as autoridades realizaram operações e batidas nos subúrbios de Saint Denis, Puteaux, Levallois e Asnieres à época conhecidos redutos de anarquistas. No entanto, nada foi descoberto nos primeiros dias. Ravachol por questões de segurança havia se retirado de Saint Denis para Saint Mande, um localidade mais afastada ao leste de Paris.

Ao ser perguntado por seus amigos se ele tinha planos contra Guilhem, o oficial de polícia que havia detido a ele, a Rulhière e aos seus amigos, Ravachol respondia que sua intenção era atingir pessoas em cargos muito mais elevados do que um simples policial. Os alvos escolhidos por ele estavam no ministério público e no judiciário e tinham responsabilidade direta pelo resultado do julgamento de Clichy-Levallois.

Atentado ao presidente da corte de justiça[editar]

thumb|right|Fotografia do estrago causado pela bomba implantada por Ravachol à casa do procurador da República, M. Bulot Para realizar sua primeira ação Ravachol contaria com a ajuda de um jovem perspicaz e escorregadio chamado Charles Achille Simon, um típico gavroche parisiense cujo apelido era "Biscoito". Simon auxiliaria Ravachol no reconhecimento da casa no Boulevard Saint Germain onde M. Benoit, o juiz, ocupava um flat.

Em 2 de Março de 1892, Ravachol, vestido com uma fina casaca e cartola, portando dois revolveres em seus bolsos, foi de bonde para Saint Germain, levando consigo um dispositivo explosivo preparado por ele em Saint Mande. Logo após colocar o explosivo no segundo andar da casa, partiu de uma maneira apressada e deselegante. Quando estava afastado já algumas centenas de metros, pode ser ouvida por vários quarteirões a grande explosão. Como a casa estava vazia no momento da explosão ninguém acabara ferido, no entanto, os danos causados somariam uma pequena fortuna, tornando-se matéria de destaque e sensacionalismo nos principais jornais.

Explosão do quartel Lobau[editar]

O caso ganharia ainda mais cobertura quando em 18 de Março de 1892, no aniversário do levante da Comuna de Paris, o quartel Lobau, local onde centenas de communards foram executados em 1871, foi palco de uma grande explosão. Esta no entanto, não fora uma ação de Ravachol, mas sim de Théodule Meunier, um anarquista carpinteiro que era amigo de Bricou, o responsável por esconder as bananas de dinamite roubadas.

Ninguém se feriu na explosão do quartel, mas ainda assim ela seria utilizada como motivo para inúmeras perseguições e prisões que a seu tempo se mostraram infrutíferas. A época também foi apresentado por Émile Loubet (mais tarde Presidente da República) e aprovado na Assembléia Nacional um projeto de lei que previa pena capital aos responsáveis pelos atentados.

Atentado à residência do promotor da república[editar]

[[Imagem:Costantini - Ravachol - Atentado a Bulot.jpg|thumb|250px|right|Arte de Flavio Costantini em referência ao atentado ao procurador da república M. Bulot]] A medida no entanto, não conseguiu intimidar nem a Ravachol, nem a Meunier. Em 27 de Março Ravachol se dirigiria a uma casa na Rua de Clichy onde morava M. Bulot, o promotor público do caso de Decamp e Dardare. Carregava consigo uma pequena mala onde estava outro dispositivo explosivo, mais potente do que o utilizado na ação anterior. Como resultado da explosão, as paredes de pedra da casa racharam e a escada desabou por inteira, os gastos somados chegaram a mais de cento e vinte mil francos e seis pessoas acabaram gravemente feridas.

Alardeados pela imprensa burguesa, este e outros atos foram tratados como crimes de terrorismo. Esvaziados de sentido político, os atentados de Ravachol e Meunier serviram com subterfúgio para perseguir anarquistas e socialistas e espalhar o terror pela cidade de Paris. Através dos jornais, os principais preocupados, estadistas e membros da elite, buscaram por todos os meios alarmar os habitantes das camadas medianas e pobres da cidade.

Segunda prisão[editar]

[[Imagem:B14-Paris-28-March-1872 large.jpeg|thumb|250px|left|A prisão de Ravachol na concepção artística de Flavio Costantini.]] Satisfeito Ravachol foi jantar no Boulevard Magenta em um estabelecimento que funcionava como loja de vinhos e restaurante, de propriedade de M. Véry. Este tinha como atendente seu cunhado, um homem chamado Jules Lherot. Ao ser servido por Lherot, Ravachol não se conteve e passou a se vangloriar sobre os atentados do Boulevard Saint Germain e da Rua Clichy. Dias depois Lherot denunciaria Ravachol para a polícia esperando por uma grande recompensa.

No dia 30 de Março de 1892 Ravachol foi preso pela segunda vez junto a seus amigos Jus-Beala, Mariette, Simon "Biscoito" e Chaumentin. Este último se revelara um hipócrita, que prontamente entregou à polícia uma série de evidências contra os outros, com o fim de se livrar da cadeia.

Após ser detido, Ravachol foi interrogado durante horas e falou abertamente aos policiais oferecendo em detalhes todas as informações solicitadas sobre seus atos e motivações. Seu interrogatório cuja transcrição permaneceu perdida por mais de meio século, não viria a público até que o historiador Jean Maitrón a encontrasse nos Arquivos da Polícia de Paris em 1964.

O depoimento tornou-se um célebre documento da forma como Ravachol pensava seus princípios em articulação com a difícil realidade das camadas populares da França em fins do século XIX:

«O nomeado acima, após sua refeição, falou o que se segue:

[[Imagem:Ravachol - Arrestation.jpg|thumb|right|Desenho reconstituindo a prisão de Ravachol publicado em Le Petit Journal.]] "Senhores, é um de meus hábitos, sempre estou fazendo trabalho de propaganda. Vocês sabem o que é anarquismo?" Nós respondemos "Não" a esta pergunta. thumb|right|Desenho reconstituindo a prisão de Ravachol publicado no Le Progrès illustré. "Isso não me surpreende", ele respondeu. "A classe trabalhadora, assim como vocês, é forçada a trabalhar para ganhar seu pão, não tem tempo para se dedicar à leitura de livretos que lhes são dados. E o mesmo acontece com vocês. [[Imagem:Ravachol - Interrogatório.jpg|thumb|right|Imagem de reconstituição do interrogatório a Ravachol publicada no Le Petit Journal.]] "Anarquia é a obliteração dos bens". thumb|right|Imagem de Lherot, o garçom que delatou Ravachol "Atualmente existem muitas coisas inúteis; muitas profissões são inúteis, como por exemplo, contabilidade. Com a anarquia não há mais a necessidade de dinheiro, já não há mais necessidade de escrituras e de outras formas de trabalho que existem atualmente.

"Existem nos dias de hoje muitos cidadãos sofrendo enquanto outros nadam em opulência, em abundância. Essa situação não pode durar; nós todos deveríamos receber o excedente dos ricos; e mais ainda, obter como eles tudo o que nos é necessário. Na sociedade atual, não é possível alcançarmos esse objetivo. Nada, nem mesmo uma taxação sobre o lucro, poderia mudar a face das coisas. Todavia muitos trabalhadores pensam que se agíssemos dessa forma, as coisas poderiam melhorar. É um erro pensar dessa maneira. Se taxamos um locatário, ele irá aumentar seus aluguéis e dessa forma vai dar um jeito de fazer com que aqueles que sofrem paguem pelos novos tributos impostos a ele. De forma alguma, nenhuma lei pode impedir os locatários de serem senhores de seus próprios bens, nós não podemos impedí-los de fazerem o que quer que queiram fazer com eles. O que então poderíamos fazer? Acabar com a propriedade e, fazendo isso, acabar com aqueles que a tudo tomam. Se essa abolição acontecer, também teremos que nos livrar do dinheiro, de forma a evitar qualquer idéia de acumulação, que poderia nos forçar a uma volta ao atual regime".

"É fato que o dinheiro é a causa de toda a discórdia, de todo o ódio e de todas as ambições; ele é, em uma palavra, o criador da propriedade. Esse metal, na verdade, nada é além de um preço acordado, surgido de sua raridade. Se nós não fôssemos mais obrigados a dar algo em troca das coisas que precisamos para viver, o ouro perderia seu valor e ninguém se interessaria por ele. Nem poderiam eles enriquecer a si próprios, porque nada que eles pudessem acumular poderia servir-lhes para que obtivessem uma vida melhor que a dos outros. E já não seriam mais necessárias as leis, nem necessários seriam os mestres".

"Quanto às religiões, elas seriam destruídas, porque sua influência moral não mais possuiria qualquer razão para existir. Não haveria mais o absurdo da crença em um Deus que não existe, desde que depois da morte tudo está acabado. Então poderíamos nos agarrar a vida, mas quando digo vida quero dizer vida, o que não significa escravidão diária para fazer os patrões gordos, enquanto morremos de fome fazendo de nós os responsáveis pelo bem estar deles."

"Mestres não seriam necessários, essa gente que ociosamente é mantida pelo nosso trabalho; todo mundo se faria útil à sociedade, pela qual eu digo trabalhando de acordo com suas habilidades e aptidões. Dessa forma, um poderia ser um padeiro, outro um professor, etc. Seguindo esse princípio, o trabalho por si mesmo diminuiria, e cada um de nós teria apenas uma ou duas horas de trabalho diário. Aquele que não fosse capaz de permanecer sem algum tipo de ocupação, encontraria sua distração no trabalho; haveriam ainda alguns preguiçosos, e se eles existissem, haveriam tão poucos deles que poderíamos deixá-los em paz e, sem queixa, deixá-los viver do trabalho de outros".

"Não existiriam mais leis, o casamento seria destruído. Nós poderíamos nos unir por inclinação, e a família seria fundada no amor de um pai e de uma mãe por seus filhos. Por exemplo, se uma mulher não mais amasse aquele a quem ela havia escolhido como companheiro, ela poderia se separar dele e buscar um novo relacionamento. Em uma palavra, completa liberdade para viver com aqueles a quem amamos. Como no caso em que eu falei se houvessem crianças, a sociedade poderia criá-los, isso é para dizer, aqueles que gostassem das crianças poderiam criá-las.".

"Com essa união livre, não existiria mais a prostituição. Não haveriam mais doenças íntimas, uma vez que elas nascem somente do abuso de ambos os sexos; um abuso ao qual as mulheres são forçadas a se submeterem, já que as condições atuais da sociedade obriga-as a suportá-lo como um trabalho para sobreviver. Será o dinheiro a necessidade de uma vida, mesmo que ganho a qualquer custo?".

"Pelos meus princípios, os quais não posso explicar em tão pouco tempo tão cheios de detalhes, o exército não mais possuiria razão para existir, desde que não existiram mais nações distintas; a propriedade privada seria destruída, e todas as nações se juntariam em uma só, que poderia ser o Universo".

"Não mais guerra, não mais disputas, não mais ciúmes, não mais roubos, não mais assassinatos, não mais sistema penal, não mais polícia, não mais governo".

"Os anarquistas ainda não alcançaram os pormenores de seu projeto; os marcos apenas foram assentados. Hoje os anarquistas são em número suficiente para derrubar o atual estado de coisas, e se isso ainda não aconteceu, é porque precisamos completar a educação daqueles que nos seguem, fazendo surgir neles a energia e a força de vontade capaz de auxiliar na realização dos seus projetos. Tudo o que é necessário para isso é um empurrão, que alguns coloquem em suas próprias cabeças, e a revolução tomará seu lugar".

"Aqueles que explodem casas têm como objetivo o extermínio de todos aqueles que, por sua posição social ou por seus atos, são nocivos a anarquia. Se fosse permitido atacar abertamente estas pessoas sem temer a polícia, pela própria vida, não sairíamos a destruir suas casas com dispositivos explosivos que poderiam matar pessoas das classes sofredoras que têm a seu serviço ao seu redor."[11]


Julgamentos[editar]

Primeiro julgamento em Assisses[editar]

thumb|300px|left|Salão da Corte de AssissesO primeiro julgamento ocorrido em 24 de Abril começaria em meio ao pânico causado pela explosão do restaurante Véry onde trabalhava o delator de Ravachol Lherot. No atentado orquestrado por Mernieur morreriam o dono do restaurante e um dos clientes, deixando muitos feridos. Lherot fugiria do pais sem receber nenhuma recompensa além da perda do cunhado que também era seu patrão.

Após a prisão de Ravachol e da prisão ou deportação de tantos anarquistas suspeitos quanto a polícia conseguira agarrar, as autoridades não esperavam que novos atentados pudessem acontecer.

Na ocasião, Ravachol surpreendera os presentes por sua atitude firme diante dos juízes, que mesmo antes de sua captura já tinham definido por lei seu veredito. Chaumentin que de vontade própria dera provas contra seus companheiros saíra livre como um ato de benevolência por parte do procurador M. Quesnay de Beaurepaire. Também Jus-Beala e Mariette Soubert foram absolvidos pela falta de evidências, fazendo com que a acusação focasse sua atenção em Ravachol e no jovem Simon.

De acordo com os relatos da época, Ravachol possuía em suas mãos uma folha onde havia escrito sua declaração, não propriamente de defesa, mas chamando seus juízes a reflexão. Quando inquerido sobre sua responsabilidade sobre os atos pelos quais estava sendo julgado, começou a lê-la, no entanto, foi interrompido depois de algumas palavras sem jamais poder retomá-la até o fim do julgamento[12].

«Se tomo a palavra não é para me defender dos atos de que me acusam, pois é somente a sociedade a responsável, que por causa da sua organização põe os homens em luta contínua uns contra os outros.</br> [[Imagem:Le restaurant Véry - ext.png|thumb|right|Desenho publicado no jornal Le Figaro do exterior do restaurante Véry após a explosão por Théodule Meunier.]] De fato, não vemos hoje em todas as classes e em todas as profissões pessoas que desejam, não direi a morte, já que soaria mal, mas sim a desgraça de seus semelhantes, se esta puder lhes trazer algum benefício. Por exemplo, um patrão que deseja ver desaparecer um concorrente? Todos os comerciantes geralmente não guerreiam uns contra os outros com o objetivo de serem os únicos a desfrutarem dos benefícios que resultam deste tipo de ocupação? O trabalhador sem trabalho não deseja, para obter um trabalho, que por um motivo qualquer que um que esteja empregado seja despedido de sua função? Pois bem, em uma sociedade onde se produzem tais fatos, não devemos nos surpreender com o tipo de atos que agora me censuram, que não são mais que a conseqüência lógica da luta pela existência que têm os homens que para viver, são obrigados a recorrer a todo tipo de meios. E já que cada um por si próprio, se preocupa consigo, em suas próprias necessidades se limita a pensar "Pois bem, já que as coisas são assim, eu não tenho porque duvidar, quando tenho fome, em recorrer a todos os meios ao meu alcance, ainda e com o risco de provocar vítimas! Os patrões quando despedem os trabalhadores, se preocupam se estes vão morrer de fome? Todos os que têm benefícios se preocupam se existem pessoas que lhes falta até mesmo o necessário?"</br> thumb|right|Ravachol sendo escoltado por guardas em junho de 1892.Certamente existe alguns que ajudam, mas são incapazes de aliviar a todos aqueles necessitados e aos que morrerão antes de seu tempo em conseqüência das privações de todo tipo, ou voluntariamente pelos suicídios de todo tipo para colocar fim a uma existência miserável e não ter que suportar as agruras da fome, as vergonhas, as inúmeras humilhações e desesperos sem fim. Nesta situação se encontra a família Hayem e a senhora Souhain que levou a morte a seus filhos para não os ver sofrer por mais tempo, e todas as mulheres que por medo de não poder alimentar a um filho, não exitam em comprometer sua saúde e sua vida destruindo em seu seio o fruto de seus amores.</br>thumb|right|Capa do jornal Progrès illustré mostrando Ravachol e seus cúmplices na corte de Assisses. E todas essas coisas acontecem em meio à abundância de todo tipo de produtos. Compreenderíamos que tudo isto tivesse lugar em um país onde os produtos são escassos, onde não há alimentos. Mas na França, onde reina a abundância, onde os açougues transbordam de carne, as padarias de pão, onde a roupa, o calçado estão amontoado nas lojas, onde existem casas vazias! Como admitir que tudo está bem na sociedade, quando se vê tão claramente o contrário?</br> [[Imagem:Le restaurant Véry - int.png|thumb|right|Desenho publicado no jornal Le Figaro do interior do restaurante Véry após a explosão orquestrada por Théodule Meunier.]] Haverá gente que se compadecerá de todas estas vítimas, mas que dirão que não podem fazer nada. Que cada um ajude como possa! Que pode fazer a quem falta o necessário mesmo enquanto trabalho, quando está desocupado? Não mais que desejar morrer de fome. Então se lançarão algumas palavras de piedade sobre o seu cadáver. Isto é o que gostaria de ter deixado para os outros. Eu preferi me fazer contrabandista, falsificador, ladrão e assassino. Poderia ter mendigado, mas é degradante e covarde, e até castigado pelas suas leis que transformam em delito à miséria. Se todos os necessitados, em lugar de esperarem, tomassem de onde existe o que precisam, não importando de que forma, entenderiam talvez mais depressa como é perigoso desejar manter o estado social atual, onde a inquietação é permanente e a vida está ameaçada a cada instante.</br> Acabaríamos, sem dúvida, compreendendo mais rapidamente que os anarquistas têm razão quando dizem que para conseguir tranqüilidade moral e física, é necessário destruir as causas que geram os crimes e os criminosos: não é suprimindo àquele que, ao invés de morrer de uma morte lenta em conseqüência das privações que teve e terá que suportar, sem esperanças de vê-las acabar, prefere, se tem um pouco de energia, tomar violentamente aquilo que lhe pode assegurar o bem estar, ainda que sob o risco de sua morte, que não é mais que um fim para seus sofrimentos. </br> E é aqui que está o porque cometi os atos que me reprovam e que não são mais que a conseqüência lógica do estado bárbaro de uma sociedade que não faz mais que aumentar o número de suas vítimas pelo rigor de suas leis que se alçam contra os efeitos sem jamais tocar nas causas; dizem que se tem que ser cruel para matar a um semelhante, mas os que falam isto não vêem que decidimos fazê-lo tão somente para evitarmos a nossa própria morte.</br>Igualmente, vocês, senhores juízes, que sem dúvida vão me condenar à pena de morte, porque acreditam que é uma necessidade e que meu desaparecimento será uma satisfação para vocês que têm horror em ver correr o sangue humano, mas que quando acreditam que será útil derramá-lo para garantir a segurança da vossa existência, não duvidarão mais do que eu em fazê-lo, com a diferença que vocês o fazem sem correr nenhum risco, enquanto que eu agi colocando em risco e perigo minha liberdade e minha vida.</br>Bem, senhores, existe mais criminosos a serem julgados, mas as causas do crime não são destruídas. Criando os artigos do Código, os legisladores se esqueceram que eles não atacam as causas mas somente os efeitos, e, efeitos que todavia se desencadearão. Sempre existirão criminosos, ainda que destruam um, amanhã nascerão outros dez.</br> O que fazer então? Destruir a miséria, esta semente do crime, assegurando a cada qual a satisfação de todas suas necessidades! E quão difícil é de realizar! Seria suficiente estabelecer a sociedade sobre novas bases onde tudo seria de todos, e onde cada um produzindo segundo suas aptidões e suas forças, poderia consumir segundo suas necessidades. Desta forma não veremos mais gente como o ermitão de Notredame-de-Grâce, mendigando por moedas daqueles que se tornam escravos e vítimas! Não veremos mais mulheres cedendo seus corpos, como uma mercadoria vulgar em troca destas mesmas moedas que nos impede freqüentemente de reconhecer se o afeto é realmente sincero. Não veremos mais homens como Pranzini, Prado, Berland, Anastay e outros que, para obter esse mesmo metal chegam a dar morte! Isto demonstra claramente que a causa de todos os crimes é sempre a mesma e que é necessário ser realmente insensato para não enxergá-la.</br>Repito, se é a sociedade quem cria os criminosos, e vocês, juízes, no lugar de golpeá-los, deveriam usar vossa inteligência e vossas forças para transformar a sociedade. Com um golpe só fariam desaparecer todos os crimes; e vossa obra, atacando as causas, seria maior e mais fecunda que vossa justiça que se limita a castigar seus efeitos.</br> Não sou mais que um trabalhador sem estudo, mas por ter vivido a vida dos pobres, tenho mais capacidade que um burguês rico para sentir a perversidade das suas leis repressivas. Onde foi que conseguiram o direito de matar ou prender um homem que, colocado sobre a terra com a necessidade de viver, se viu na necessidade de tomar aquilo que lhe faltava para se alimentar?</br> Trabalhei para viver e para sustentar a minha família; para que nem eu nem meus parentes sofrêssemos demais. Mantive-me da forma que vocês chamam "honesto". Depois o trabalho faltou e sem ele veio a fome. Só então veio essa grande lei da natureza, esse brado imperioso que não admite ficar sem resposta, o instinto de preservação me levou a cometer alguns dos crimes e infrações dos quais sou acusado e que admito ser o autor. </br>Me julguem, senhores do júri, mas se vós me compreendestes, ao me julgarem julguem todos os desafortunados cuja pobreza combinada com orgulho natural, transformou em criminosos, e àqueles cuja riqueza ou o benefício transformou em homens honestos.</br>Uma sociedade inteligente teria feito deles homens, como quaisquer outros".[13]»


Tanto Ravachol quanto Simon foram considerados culpados e condenados a trabalhos forçados para o resto de suas vidas. As investigações não parariam aí, um outro julgamento teatral seria armado com a intenção de condenar Ravachol finalmente à guilhotina.

Em um artigo publicado em 1 de Maio, Octave Mirbeau apresenta uma das mais balanceadas visões sobre as motivações das atividades terroristas de Ravachol.

«Quem é - o autor de toda essa interminável procissão de torturas que tem sido a história da raça humana - quem é responsável por estes banhos de sangue, sempre com a mesma crueldade, sem descanso nem misericórdia? Governos, religiões, indústrias, campos de trabalho forçado, todos eles estão encharcados de sangue.»
(Octave Mirbeau, Ravachol)


Segundo julgamento em Montbrison[editar]

[[Imagem:Ravachol - Tribunal Montbrison.jpg|thumb|left|300px|Segundo julgamento de Ravachol em Montbrison, na corte de justiça de Loire.]] Após ser mantido durante dois meses em uma espécie de jaula sob vigilância constante, Ravachol foi finalmente enviado da Corte de Assisses para Montbrison para responder pelos assassinatos dos quais era acusado. Com a aparência cansada ele se colocou frente à Corte; na platéia estavam presentes homens ilustres, jornalistas e curiosos anônimos. Seus amigos Beal e Mariette compareceram junto com ele, mas apenas na qualidade de cúmplices por oferecerem abrigo após o assassinato do eremita de Chambles. Entre as testemunhas trazidas pela acusação estava a companheira de Ravachol, La Rulhière. Ao vê-la, pela primeira vez ele choraria em um local público, enquanto ela por sua parte declararia que ainda o amava e que o acusara falsamente.

Durante o julgamento, Ravachol confessaria alguns dos crimes dos quais era acusado, negando absolutamente sua participação em outros assassinatos que não o de Chambles. Sobre este episódio em que matara o eremita em Chambles, ele afirmaria ser ele o resultado da situação miserável na qual ele vivia.

Por fim, a Corte de Justiça de Loire condenaria Ravachol à guilhotina pelos três assassinatos, diversos delitos e dois outros crimes comuns ocorridos em 1886 e 1891. Após ouvir o pronunciamento da sentença, ele gritaria:

«Vive l'Anarchie!»


Após o julgamento Ravachol se recusou a apelar para a Corte ou solicitar uma prorrogação junto ao Presidente da República. Até hoje sua participação em dois dos assassinatos pelos quais foi condenado é motivo de dúvidas entre os historiadores.

Execução[editar]

[[Imagem:Partition de La Ravachole.png|thumb|300px|right|Partitura de La Ravachole]]No dia 11 de Julho de 1892 Ravachol foi guilhotinado em Montbrison, aos 32 anos de idade, pelo Estado francês. Naquela mesma manhã um telegrama seria emitido pelo Estado que o executou descrevendo as últimas ações de Ravachol e o contexto em que se deu sua decapitação.

«A Justiça foi feita esta manhã às 4:05 sem incidentes ou protestos de qualquer tipo. Ele acordou às 3:40. O condenado recusou a presença do capelão e declarou que não tinha nada para confessar. Inicialmente pálido e trêmulo logo ele demonstrou um cinismo afetado e exacerbação aos pés do patíbulo momentos antes da execução. Em voz alta ele cantou rapidamente uma curta canção blasfema e revoltantemente obcena. Ele não pronunciou a palavra 'anarquia', e quando sua cabeça foi colocada no buraco ele emitiu um último grito de "Longa Vida a Re..." Uma calma completa reinou na cidade. E assim aconteceu como reportado.[14]»


A canção descrita pelas autoridades como 'obcena' e 'blasfema' cantada por Ravachol aos pés do patíbulo foi a "La Ravachole", uma paródia da "La Carmagnole" popularmente criada em sua homenagem [15]. Seus executores consideraram que a palavra cortada pela lâmina da guilhotina era "República", no entanto, é evidente que a palavra era de fato "Revolução"[16].

Ciclo de revanches[editar]

[[Imagem:Ravachol Portrait.jpg|thumb|left|Foto de Ravachol enviada por Sante Caserio à viúva de Sadi Carnot, o presidente que acabara de assassinar. Junto um escrito Está bem vingado.]] Além da bomba de Théodule Meunier colocada no Café Véry, na noite do primeiro julgamento de Ravachol, muitas outras ações violentas seriam orquestradas por anarquistas ilegalistas depois de sua morte.

Em 8 de Novembro de 1892 uma bomba deixada na delegacia de polícia da rua des Bons Enfants explodiu matando seis pessoas. Seu autor, o anarquista espano-francês Émile Henry escapa da polícia com a qual chega a trocar tiros em meio às ruas de Paris.

Em 9 de Dezembro de 1893, Auguste Vaillant lança uma bomba dentro do Palácio Bourbon, no salão da Assembléia Nacional Francesa. A bomba feita de pregos fere 80 dos políticos que lá estavam, sem, no entanto, matar nenhum deles. Por esse ato Auguste Vaillant foi caçado, preso e também guilhotinado em 3 de Fevereiro de 1984.

A morte de Vaillant, por sua vez, seria vingada também por Émile Henry que, em 12 de Fevereiro de 1894 lança outra bomba no luxuoso Café do Hotel Terminus, matando uma pessoa e ferindo outras vinte. Desta vez Henry seria preso e enviado para guilhotina em 21 de Maio daquele mesmo ano.

Meses depois,em 24 de Junho de 1894, o anarquista italiano Sante Geronimo Caserio vingaria Vaillant, Ravachol e Henry apunhalando até a morte o Presidente da República Francesa Marie François Sadi Carnot.

Ravachol é mais um elo visível da cadeia de ações diretas, execuções e vinganças que marcariam inexoravelmente o final do século XIX bem como o início do século XX. A partir dela, governantes e capitalistas da América e da Europa especulariam sobre a existência de um gigantesco complô internacional anarquista para assassinar líderes e burgueses de todo o mundo. À sua época, esta suposta conspiração, chamada também de a Internacional Negra, foi utilizada amplamente pelos jornais para demonizar as idéias anarquistas e, de quebra, ampliar a margem de vendas.

O mito[editar]

thumb|200px|Gravura de Ravachol diante da guilhotina por Charles Maurin, colorida por Eric Beaunie.A respeito da memória de Ravachol, as difertentes correntes anarquistas seguem se dividindo até os dias de hoje. Enquanto grupos adeptos das vertentes pacifistas se negaram a lhe conceder um lugar, considerando-o um simples delinqüente que tomaria posteriormente a causa anarquista como justificativa de seus atos[17], outros, adeptos das ação direta radical, transformaram-no em um símbolo romântico da revolta desesperada, um ícone de seu tempo[18].

O historiador francês Jean Maitrón escreveria um livro intitulado Ravachol e os Anarquistas; tal obra trata amplamente da influência das ações de Ravachol sobre os grupos anarquistas subseqüentes.[19]

De fato Ravachol e outros ilegalistas de seu tempo, muitos dos quais vingaram sua execução com bombas e assassinatos, se tornariam referências vigorosas que atravessaram os séculos influenciando coletivos anarquistas como o Bando Bonnot na França da década de 1910, e Los Solidarios na Espanha dos anos 1920, e gerações de anarquistas expropriadores que até os dias de hoje permanecem ativos em todo o mundo.

«Deixemos de lado o suicídio induzido pelo cansaço, que como um último sacrifício coroam todos aqueles que se foram antes. É melhor uma última risada à Cravan, ou uma última canção à Ravachol.»
(Raoul Vaneigem, A Revolução da Vida Cotidiana)


Curiosidades[editar]

  • Ravachol continuou vivo na memória popular francesa, sendo motivo de muitas músicas em sua honra e memória[20].
  • A palavra ravacholiser de invenção anônima foi utilizada para descrever o ato de lançar bombas[21].
  • O nome de Ravachol é citado na primeira estrofe do Hino Anarco-individualista - "Antes de morrermos a beira da estrada, Imitemos a Bresci e a Ravachol...".
  • Os Fãs do desenho animado Tintin também podem notar que Ravachol é um termo utilizado por diversas vezes pelo Capitão Haddock como uma forma de insulto.
  • No final do século XIX o boticário Perfecto Feijoo da cidade espanhola de Pontevedra nomeou seu papagaio de estimação de Ravachol em homenagem ao famoso anarquista. Ganhando grande popularidade o papagaio acabou tornando-se um símbolo do Carnaval daquela cidade até os dias atuais.

Notas e referências[editar]

thumb|right|O louro Ravachol desfila pelas ruas de Pontevedra no carnaval.

  • Jean Maitron, Ravachol et les Anarchistes. Paris, Julliard, 1964

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  1. Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor
  2. Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor
  3. Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor
  4. Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol
  5. Uma narrativa de Ravachol
  6. Fernand Drijkoningen, Dick Gevers, Anarchia, Amsterdam, Rodopi, coll. « Avant Garde Critical Studies », 1989 Template:ISBN
  7. Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol
  8. Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol
  9. Os Anarquistas, suas crenças e registros. Capítulo 6: O terror francês: Ravachol
  10. Ravachol por Octave Mirbeu
  11. Un saint nous est né, edited by Philippe Oriol. L'équipement de la pensée, Paris. 1992;
  12. A declaração proibida de Ravachol
  13. A declaração proibida de Ravachol
  14. Telegrama de Anúncio da Execução
  15. http://increvablesanarchistes.org/articles/avan1914/pere_peinard.htm#bas
  16. Telegrama de Anúncio da Execução
  17. García Mañas, José Luis La represión del terrorismo anarquista consultado el 17 de abril de 2007.
  18. Aragón, Luis Ravachol vuelve! consultado el 17 de abril de 2007.
  19. Agapea Ravachol y los Anarquistas consultado el 17 de abril de 2007.
  20. Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor
  21. Uma biografia de Ravachol por Mitch Abidor
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